
Carta do Advento 2025 do Pe. Tomaž Mavrič, CM
Roma, Advento 2025
UM ADVENTO DE “OLHOS ABERTOS”
PARA VIVER A MÍSTICA DA CARIDADE
Caros membros da Família Vicentina,
Que o Senhor Jesus, fonte de verdadeira esperança, que ilumina as mentes e traz paz aos corações, esteja sempre conosco!
Neste início do Advento, tempo de espera e de esperança, gostaria de apresentar-lhes um pensamento que vem do coração do nosso carisma e da nossa espiritualidade: viver a espera do Senhor na caridade concreta.
O Advento não é apenas um tempo de preparação litúrgica para o Natal, mas um itinerário de conversão do olhar, para aprender a reconhecer Jesus que vem incessantemente ao nosso encontro através do rosto e da pessoa dos pobres, dos pequeninos e dos excluídos. É o tempo em que a Palavra nos convida a estar atentos, mas também a agir, a nos deixarmos tocar pelas feridas do mundo, para nos tornarmos sinais credíveis do amor de Jesus.
Neste tempo de Advento, convido-lhes a despertar a mística da caridade: aquela que nasce do silêncio da oração, se desenvolve no serviço cotidiano e se realiza na comunhão fraterna. Não é a primeira vez que lhes convido a refletir sobre a mística da caridade, pois creio que sua “prática” nos permite agir de acordo com o próprio coração da vida cristã. É na caridade que a fé se torna visível, que a esperança se traduz em gestos e que a espera de Jesus se torna um encontro cotidiano com Ele nos pobres.
A Família Vicentina é hoje, como sempre, convidada a amar os pobres segundo o coração de Jesus, sem buscar interesse pessoal. Nosso coração deve inflamar-se de caridade segundo o espírito do Evangelho, como escreve São Vicente de Paulo: “Um coração verdadeiramente inflamado de caridade, que sabe o que é amar a Deus, não quereria ir a Deus, se Deus não se adiantasse e não o atraísse com sua graça. Isso está bem longe de pretender alcançar a atrair a Deus para si mesmo com a força de braços e de máquinas. Não, não nestes casos nada se conquista pela força. Deus, quando quer comunicar-se, o faz sem esforço, de uma maneira sensível, totalmente suave, doce, amorosa…” (SV XI, p. 227).
Em 19 de setembro de 2016, na minha primeira carta à Família Vicentina como Superior Geral, fiz o convite para refletir sobre a figura e a obra de São Vicente de Paulo, “místico da caridade”. À luz das nossas Constituições e da nossa Regra comum, convidei-lhes a aprofundar os pilares da espiritualidade de São Vicente, que fizeram dele um místico da caridade: a Encarnação (Advento de 2016), a Santíssima Trindade (Quaresma de 2017) e a Eucaristia (Advento de 2017).
A linha reformadora de Vicente é clara para todos nós, pois reflete a mística do amor, vivida por Jesus na dinâmica da encarnação, que Ele tornou visível na história. Através das palavras e ações do Verbo de Deus encarnado, o amor se fez carne em Jesus: Ele escuta as necessidades das pessoas, anuncia a Palavra de libertação e realiza obras concretas. Estas obras visam promover cada ser humano, conferindo-lhe a dignidade de filho de Deus. Cada ensinamento de São Vicente procura reafirmar a dimensão mística do dom que foi concedido aos seres humanos, sem qualquer mérito, pela encarnação de Jesus de Nazaré.
Na Família Vicentina, a missão adquire todo o seu sentido e se nutre do mistério da caridade, onde Jesus se revela de uma maneira mística nos pobres. Assim como o Filho de Deus se encarna em uma criança, humildemente colocada em uma simples manjedoura, Ele está presente nos pobres. A partir disso, origina-se para cada um de nós a espiritualidade do amor ao próximo, que tem suas raízes em Jesus e se estende até os mais necessitados. A Palavra de Deus nos convida a viver concretamente o serviço aos nossos irmãos e irmãs, em suas necessidades materiais e espirituais.
Neste tempo de Advento de 2025, convido-lhes a descobrir novamente a verdade do nosso olhar, que nos faz sonhar com a vinda de Deus na realidade concreta da humanidade. Ele também nos permite cultivar e aprofundar aquilo que o teólogo Johann Baptist Metz chamava de mística de olhos abertos. Hoje, a Família Vicentina é chamada a renovar cada dimensão de sua vida no fervor do amor: a oração, a missão da caridade, a vida fraterna, o anúncio do Evangelho aos pobres, o testemunho cristão na sociedade. Neste tempo de espera, Jesus nos chama a praticar e dar frutos no amor, de acordo com o ensinamento transmitido por São Paulo no hino à caridade!
Manter os olhos abertos implica comprometer-se com uma espiritualidade concreta e cumprir com responsabilidade a nossa missão de Família da caridade em nome do amor encarnado. Parafraseando Metz, é a caridade de fato que nos torna vigilantes, nos desperta e abre nossos olhos para a realidade, desde que esteja enraizada no amor que é Jesus. Esse amor é o princípio fundamental que alimenta a vida de São Vicente e de toda a Família que ele desejou. “A caridade está acima de todas as regras. Tudo deve referir-se a ela. É uma grande dama. É preciso fazer o que ela manda” (SV, Conf. de 17 de novembro de 1658, p. 836).
A fim de viver plenamente a mística da caridade de olhos abertos, é essencial fazer da espera do Advento um exercício de zelo pela salvação das almas.
A mística da caridade de olhos abertos nos orienta em direção ao que deveria ser o olhar concreto de cada um de nós, neste tempo de Advento. Somos convidados a transformar nossa maneira de ver, tanto com nossos olhos quanto com nosso coração. Às vezes, a desesperança nos impede de ver com clareza e nos torna indiferentes. Podem existir aqueles que, embora se declarem samaritanos (cf. Lc 10, 25-37), evitem a estrada que vai de Jerusalém a Jericó… talvez para não cruzar o olhar dos pobres com o da sua própria opulência. Para testemunhar a caridade encarnada, devemos avançar nesse caminho de maneira concreta e responsável, seguindo a lógica da eficácia evangélica, ou seja, permanecendo em silêncio sobre nossas ações.
Reavivar o zelo de nossa missão, segundo a intenção de São Vicente, significa também restaurar a dignidade dos sonhos dos pobres por meio de respostas tangíveis, a exemplo do Bom Samaritano do Evangelho. Ele estava pronto para apoiar e acompanhar a espera desesperada do homem miserável, confiante no fato de receber um ato de amor. Os pobres, seja qual for seu estado, “sonham, mas precisam de alguém que interprete os seus sonhos”, escreve um venerável membro da Igreja, o Bispo Tonino Bello.
Jesus nos pede a conversão do coração para podermos conciliar caridade e justiça. Esperançar-se na caridade implica viver a mística da caridade de olhos abertos, com o zelo recomendado por São Vicente, que encontrou sua fonte em Jesus. Na verdade, “se o amor de Deus é um fogo, o zelo é a sua chama; se é um sol, o zelo é o raio. O zelo é o que há de mais puro no amor de Deus” (SV XII, p. 313).
A mística da caridade de olhos abertos torna-se realmente espera e realização das promessas de Jesus. Isso só poderá se realizar plenamente se cada pessoa for reconhecida em sua dignidade e não avaliada segundo a lógica do lucro ou em função de sua condição social e de suas possibilidades econômicas. De fato, o teólogo Metz escreve: “A fé cristã é, em todo caso, uma fé que busca a justiça. Certamente, os cristãos também são místicos, não apenas no sentido de uma experiência espiritual pessoal, mas no sentido de uma experiência espiritual de solidariedade. Eles são, antes de tudo, “místicos de olhos abertos”. Sua mística não é uma mística natural sem rosto. É, principalmente, uma mística que busca o rosto, o que conduz, acima de tudo, ao encontro com aqueles que sofrem, ao encontro com o rosto dos desfavorecidos e das vítimas”.
É essencial viver a dimensão mística da Família Vicentina, que faz parte da missão da Igreja. Neste tempo de Advento que estamos prestes a viver, é imperativo refletir sobre esse desafio, mas também nos comprometer a tornar nossa missão mais condizente com os princípios evangélicos. Mais de cinquenta anos se passaram desde que Karl Rahner, grande teólogo do século XX, pronunciou, durante os debates conciliares, uma das frases mais proféticas e célebres sobre a fé. A frase que ouvimos e repetimos várias vezes é a seguinte: “O cristão do século XXI será um “místico” – isto é, alguém que “viveu” algo – ou não será cristão”. Chegou o momento de realizar essa profecia, comprometendo-nos concretamente com a caridade para viver a mística de olhos abertos, ou seja, reconhecendo na pessoa dos pobres Jesus que vem até nós.
Que este tempo de graça do Advento do Senhor em nosso meio, nos encontre vigilantes no amor. Que nos torne capazes de mostrar a ternura do Pai e de anunciar, por meio de palavras e ações, a Boa Nova aos pobres. Tudo isso nos permitirá dar vida aos seus sonhos de forma concreta, com responsabilidade e confiança em Jesus, a esperança que vem até nós na pobreza de uma manjedoura.
Seu irmão em São Vicente,
Tomaž Mavrič, CM
Nota: Conforme anunciado na minha carta por ocasião da Solenidade de São Vicente, em 27 de setembro de 2025, informo-lhes que, estão disponíveis recursos pedagógicos e pastorais sobre o filme Monsieur Vincent e sobre a obra multimídia Fino alla fine. Vincenzo de Paoli, messaggero e servo (Até o fim. São Vicente de Paulo, mensageiro e servo), no site abaixo:
- Italiano: https://congregatiomissionis.org/risorse-pastorali/
- Inglês: https://congregatiomissionis.org/en/pastoral-resources/
- Espanhol: https://congregatiomissionis.org/es/recursos-pastorales/
- Francês: https://congregatiomissionis.org/fr/ressources-pastorales/
Encorajo todos a divulgar e promover essas produções nas comunidades, paróquias, escolas, missões e obras da Família Vicentina, como uma oportunidade de aprendizagem, formação e oração. Utilizem-nas como instrumentos missionários para se aproximar dos jovens, das famílias e das pessoas afastadas da fé, mostrando-lhes a beleza de uma vida doada a Deus e aos irmãos e irmãs; considerem a visualização das produções como uma experiência comunitária, que reforça o sentido de pertença e reaviva em nós o fogo da espiritualidade e do carisma.



