“Eu tô muito feliz por tudo isso que está acontecendo agora e a presença de vocês foi a coisa mais importante que já me aconteceu hoje. Faz tempo que espero uma visita como essa na minha casa”,
disse D. Altamira, de 81 anos, moradora da Comunidade de Calados, no município de Baião-Pará.
Altamira e a família receberam um grupo de missionários na sua casa no último final de semana. Como se conhecessem há anos, os missionários e a família se reuniram no puxadinho da casa, partilharam momentos felizes e difíceis, leram e conversaram sobre o evangelho, riram e choraram juntos. Como a chuva no verão, aquela visita chegou repentinamente e trouxe algo diferente àquela família.
Ao lado do esposo, Sr. João e ao redor dos filhos, netos e bisnetos, Altamira se emocionou, abriu seu coração e contou sua história. Dona de uma fé inabalável e mãe de 16 filhos, ela refletiu sobre os desafios que já enfrentou com problemas de saúde, impossibilitando-a de andar, trazendo depressão e consequentemente impedindo-a de ir à missa e qualquer outro lugar que lhe trouxesse paz, pois não poderia ao menos sentar-se.
Iguais à família de Altamira, muitas outras foram visitadas entre os dias 22 a 27 de julho de 2019, nas cidades de Baião, Jandaíra e Curitiba; os locais que sediaram a primeira edição das Férias Missionárias, realizada pela Juventude Mariana Vicentina. Foram mais de 150 missionários da Juventude Mariana Vicentina do Brasil participando desta experiência de fé, missão e aprendizado. Na alegria de ser Família Vicentina, outros ramos somaram também nas Férias Missionárias: as Filhas da Caridade, a Congregação da Missão e os irmãos da Sociedade São Vicente de Paulo.
Comunidade: lugar de acolhida e escuta
Desde o dia 21 de julho, pouco a pouco os missionários chegavam à Comunidade Tubibal, em Jandaíra e até o dia 22, a família estava reunida. Sim, era assim que as relações se construíram com o passar do tempo, como uma família. Conviveram por seis dias juntos, e antes que o encontro se iniciasse oficialmente com a missa de abertura, eles já se sentiam de casa, principalmente com o acolhimento da comunidade.
Envolvidos pelo ardor do Espirito Santo e o chamado de Deus à missão, iniciaram as Férias Missionárias em Tubibal com a missa de abertura, no dia 22, um momento embalado por muita emoção, pois foi neste dia a consagração de 12 jovens da JMV Tubibal.
Os dias pareciam correr com tantas experiências vividas desde o primeiro dia dos missionários naquele lugar. Como não poderiam se limitar à teoria do ser missionário, depois de uma manhã formativa no segundo dia de encontro, eles partiram em missão levando a escuta necessária para aquela comunidade.
Eldaíza Barros, da JMV Tubibal faz parte da Associação há oito anos. Ela e seus amigos da comunidade receberam os missionários e partilharam experiências transformadoras. “Vivi uma experiência na qual me fez ser cada vez mais da Juventude Mariana Vicentina, não imaginava a JMV Tubibal ser escolhida para a primeira Missão Nacional da JMV Brasil. Como os demais jovens, fiquei insegura de não conseguirmos alcançar os nossos objetivos e metas, e vivemos pela Divina Providencia de Maria Santíssima, e assim, jamais estaríamos sozinhos nessa jornada. […] A comunidade de Tubibal acolheu de braços abertos os missionários de Belo Horizonte, Recife, Natal e Pau dos Ferros que se ausentaram de suas famílias por uma semana, para fazer a Missão e assim, a fazer a vontade do Pai evangelizando os mais necessitados”, comenta.
Experiência missionária: vivência que edifica
As Férias Missionárias na Província de Curitiba aconteceram no município de Colombo, onde os jovens visitaram três bairros do município: Roça Grande, Osasco e Carvalho. Alguns missionários foram marinheiros de primeira viagem e partilharam a primeira a experiência de missão porta a porta com visitas e conversa com as famílias. Emily Josefi, membro da JMV há mais de seis anos explica que já viveu outras experiências de serviço na JMV, mas igual a esta não. “Esse ano o Conselho Provincial propôs o projeto Família JMV, que consiste na ‘adoção’ de uma família carente pra assistir até o fim do ano. Então os jovens daqui já tinham e têm experiência, mas de forma muito rasa. Missão grande, como esta que vivemos nas Férias Missionárias, foi a primeira para a maioria e também para mim”, comenta.
Estiveram presentes mais de trinta jovens, dois da JMV Província do Rio de Janeiro, um da SSVP Belo Horizonte, seis seminaristas da Congregação da Missão e os demais são das cidades da Província de Curitiba. Realizou-se três dias de Formação e Espiritualidade, dois dias de Missão nas comunidades e um dia de Lazer.
Segundo Emily, a organização, a estrutura da programação e a participação dos jovens tornaram o encontro uma experiência inesquecível. “Com toda a certeza, esses jovens que participaram estarão mais preparados para atuar em seus grupos locais e ensinar o que puderam aprender. Além da Missão em si, tivemos muitos momentos de partilha de conhecimentos, que foram essenciais para o entrosamento do grupo e maior organização nos momentos missionários. Foi demais e já queremos que se repita!”.
Partilha: histórias que nos renovam
Eram 9h40 da manhã de sábado na Comunidade de Calados, em Baião. As crianças brincavam no quintal de terra batida que ligava uma casa e outra, como se o tempo não passasse e ali fosse um parque de diversões. Enquanto isso, Tereza estava nos fundos da casa ocupada com afazeres domésticos; ela não esperava, mas um grupo de jovens batia em sua porta naquele momento. Num salto, a pequena Maria Giovanna, observa a presença dos visitantes e chama pela mãe. Desconcertada, a mulher aparece enxugando o suor no rosto; apoia um pano de prato nos ombros, franze a testa e força a vista para enxergar quem estava ali. Com o olhar surpreso, abre um sorriso como se os conhecesse, convidando-os para sentar nos assentos disponíveis na entrada da casa. No decorrer da visita, Tereza (50), contou sua história e partilhou aos missionários que estava vivendo uma fase muito boa da sua vida, depois de muitas tribulações, dificuldades e sofrimento.
Além da história de Tereza, os jovens escutaram também outras histórias que lhes tocara, uma delas é a do sr. Claudimilson (60) que mora na Comunidade Nazaré, em Baião. Os missionários chegaram à sua casa por volta das 15h30 da sexta-feira e observaram que a única companhia daquele homem era a solidão. Hesitante nos primeiros minutos de visita e com o olhar distante, ele não se expressava, mas tentava responder as perguntas dos missionários.
Como quem quisesse se render e pedir ajuda, Claudimilson parecia mal. Ele estava com um ferimento na barriga aberto de uma recente cirurgia de hérnia, inflamada e não tinha a medicação para se tratar. Na verdade, ele não tinha nem comido naquele dia, tampouco tinha as medicações necessárias para seu tratamento. Estava totalmente sem dinheiro, pois há poucos meses perdera o benefício da aposentadoria e não tinha nenhum familiar. Os missionários compraram de imediato um lanche para ele e no dia seguinte fizeram uma vaquinha para comprar sua medicação. Sabendo da história, as Filhas da Caridade que moram em Baião prometeram ajudar o homem.
Em Baião, os missionários iniciaram a experiência das Férias Missionárias três dias depois de Curitiba e Jandaíra. Mas mesmo com pouco tempo de encontro, eles se dividiram e visitaram sete comunidades. Iniciando sempre as atividades do encontro às 7h30 da manhã e concluindo às 18h.
Dentre as histórias de Tereza, Altamira e Claudimilson, muitas outras foram partilhadas com os missionários. Não só em Baião, mas também nos outros locais que sediavam as Férias Missionárias: Colombo (Curitiba) e Tubibal (Jandaíra). Houveram partilhas de vivências, evangelho, alimento para o corpo e a alma; enfrentaram desafios, desbravaram caminhos e aprenderam o sentido da vida missionária.
As Férias Missionárias não foi só um evento, ela foi um marco para a JMV Brasil, o início para a missão de muitos jovens que se descobriram grandes missionários.