Autor: jmv
-
ARTIGO | São Vicente e Santa Luísa – Reavivar o fogo do nosso servir
Na história de suas vidas, suas cartas e conferências, Vicente de Paulo e Luísa de Marilac aparecem como pessoas normais com suas fragilidades e carismas, porém capazes de conseguir grandes graus de santidade. Mostram de forma extraordinária como o poder da Graça pode transformar vasos frágeis de argila em instrumentos eficazes do projeto divino.
Vicente foi um jovem aventureiro vindo da roça que buscava constantemente horizontes mais amplos. Alimentou ambições para uma promoção social através do ministério sacerdotal para ajudar à sua família que tanto amava. Dotado de uma grande facilidade para estabelecer relações com todo tipo de pessoas, pobres e ricos eclesiásticos e políticos, nobres e plebeus, homens e mulheres, religiosos e leigos. Mais tarde ele usaria deste dom para uma boa causa: realizar o seu sonho de servir aos pobres. Homens de nosso tempo, que buscam constantemente “algo a mais” na vida, podem encontrar valores na vida de Vicente.
Luísa, que nasceu e cresceu em meio a sofrimentos, não se deixou desanimar por eles e se lançou a perseguir os objetivos que tinha traçado para a sua vida. Foi uma boa esposa, uma mãe sempre preocupada com seu único filho. Tendo descoberto a vocação de sua vida com a ajuda de Vicente, converteu-se em sua amiga fiel e colaboradora. Juntos, fundaram as Filhas da Caridade, um caminho radicalmente novo de viver a vida consagrada feminina em seu tempo.
Ainda hoje são muitas as mulheres — religiosas e leigas, solteiras, viúvas e casadas — que encontraram em Luísa um modelo inspirador, um modelo que finalmente “deu certo” não obstante as limitações impostas pelo nascimento, pela natureza e as circunstâncias.
Passou o tempo, e Vicente e Luísa continuam a impactar e a inspirar gerações. O fogo de sua caridade ainda permanece acesso e aviva muitos outros. Converte o passado num presente vivo que transforma.
Eles se atreveram a sonhar…
Durante suas vidas, Vicente e Luísa perseguiram com paixão implacável o sonho no qual acreditavam, e que era como um fogo que os consumia. Sonharam em se entregar plenamente para seguir a Jesus evangelizando e servindo aos pobres de seu tempo. Este sonho foi como a Estrela Polar que guiou cada decisão que tomaram e cada passo que deram.
Vicente e Luísa, porém, não nasceram com este sonho. De fato, tinham outros sonhos quando jovens – sonhos como todos nós temos. Na medida em que iam realizando os primeiros sonhos, percebiam que estavam constantemente deparando-se com desgostos, fracassos, reviravoltas, mudanças inesperadas, como se uma mão invisível estivesse presente no caminho de sua realização.
Progressivamente, Vicente e Luísa descobriram o significado destes acontecimentos que pareciam apartá-los da realização dos seus sonhos. Na verdade, não eram senão os caminhos misteriosos de Deus para lhes revelar a vocação de suas vidas. Vicente e Luísa permaneciam abertos a esta revelação e se deixavam guiar pelo Espírito.
Tanto Vicente quanto Luísa viveram atormentados com profundas dúvidas de fé durante algum tempo: dúvidas que se convertiam em verdadeiras “noites escuras” para eles. Todavia, uma experiência iluminadora para Luísa e uma firme resolução de Vicente de servir aos pobres mudaram o curso de suas vidas. Desde esse momento em diante, Deus foi o seu absoluto. Deixaram de lado os seus primeiros sonhos para seguir o chamado de Deus… um chamado que se realiza através de acontecimentos e pessoas. Uma vez no caminho, Vicente e Luísa nunca voltaram a olhar para trás.
Numa época de guerras intermináveis, provocadas por motivos religiosos e políticos, e de uma pobreza que desafia a imaginação, Vicente e Luísa atreveram-se a sonhar… um sonho aparentemente impossível. Mas, guiados e apoiados pela Providência, com os dons extraordinários com que a natureza os tinha enriquecido tão generosamente, e com a benção das circunstâncias, o sonho de Vicente e Luísa aos poucos foi tomando forma: as Damas da Caridade (hoje a AIC, Associação Internacional de Caridade), a Congregação da Missão e as Filhas da Caridade.
Enquanto perseguiam seu sonho com firme convicção, Vicente e Luísa iluminaram, sem ter conscientes disso, novos caminhos que contribuíram significativamente na renovação da Igreja e da sociedade do século XVII na França e fora dela.
Manter vivo seu sonho hoje…
Ao lembrar Vicente e Luísa, estamos agradecidos pelo carisma que Deus lhes deu, carisma que como fundadores transmitiram à Família Vicentina como um dom à Igreja e ao mundo.
Fidelidade criativa é o outro rosto da gratidão pelo dom de Vicente e Luísa. Esta fidelidade nos remete às origens da história Vicentina… nos convida a ler o presente à luz do seu sonho… a reler seu sonho à luz do momento atual.
Se Vicente e Luísa estivessem hoje entre nós, como estariam lendo a situação atual à luz do Cristo que queriam seguir? Quais palavras nos diriam? Como responderiam às novas situações com as que nos enfrentamos hoje? Que opções fariam?
O nosso mundo é radicalmente diferente em muitos aspectos ao mundo de Vicente e Luísa. Novas perguntas nos pressionam. Num mundo que tem experimentada a violência da pandemia que acaba gerado novas formas de pobreza, novos rostos de pessoas pobres, quais e quem devem ser as nossas prioridades? Vicente e Luísa estiveram constantemente atentos aos acontecimentos como “lugares” para o encontro com o Espírito. Num mundo obcecado pelo “instante” e o “extra rápido”, e que se apresenta egoísta, amedrontado, como devemos agir para estar realmente atentos e discernir?
O nosso mundo pós-pandêmico almeja ser mais inclusivo, ir além das fronteiras de raça, etnia, classe, gênero e religião. Em concreto, que implica isto nas nossas obras entre os pobres… para nossa colaboração?
Nosso mundo tem se tornado mais e mais secularizado, girando sobre si mesmo… e que agora perde todos seus parâmetros de segurança, parece voltar agora com uma preocupação social, abrindo-se as pessoas num resgate por solidariedade e justiça social. Quais os desafios que isto representa para nosso serviço Vicentino, onde a visão de fé e a motivação da caridade são primordiais?
Vivemos em meio a uma inaudita crise global… moral, cultural, econômica e espiritual e agora também de saúde com uma projeção de novas formas de pobreza e exclusão. Que releitura faríamos do sonho de Vicente e Luísa à luz desta realidade?
O Povo de Israel fez uma releitura da sua Aliança com Yahweh desde a perspectiva da crise experimentada durante o exílio. Agindo desse modo, redescobriram o significado de sua identidade como Povo de Deus. Vicente fez a releitura do Evangelho desde sua experiência do pobre e a confusão que ameaçava destroçar a sociedade e a Igreja de seu tempo. Neste sentido, ele descobriu a sua vocação na vida e gerou um sonho que marcou profundamente seu tempo.
Progredindo juntos…
Somos herdeiros(as) de um grande legado… filhos e filhas de dois grandes profetas da caridade. Esta herança comum nos orgulha. Nossos vínculos se entrelaçam. Com um grande número de membros em todos os continentes, nós, como Família Vicentina, temos um grande potencial para estabelecer um diferencial em nosso tempo, como Vicente e Luísa o fizeram no seu.
Temos os “genes” de Vicente e de Luísa. Temos seu coração e seu espírito. A fidelidade ao seu legado nos insta a progredir juntos… para ser profetas da caridade no mundo atual. A realidade global de hoje exige testemunho coletivo. Nos resta a ser não simplesmente profetas individuais, senão uma “família de profetas”.
Num tempo no qual a injustiça tem assumido uma dimensão global, o sonho de Vicente e Luísa nos impulsiona a desenvolver redes de caridade. Redes de caridade atentas aos acontecimentos e aos pobres, criativas e audaciosas nas suas respostas, que manifestam a novidade perene do carisma Vicentino. Elas criam ondas de esperança para o futuro.
“E seguro que quando a caridade mora numa alma, toma posse de todas as suas potencias; no lhe dá descanso; é um fogo que está constantemente ativo; una vez que a pessoa está inflamada por ela, esta a mantém enfeitiçada” (SVP, Repetição de Oração, 4 de Agosto de 1655).
“Por favor, continuem a servir aos nossos queridos mestres com grande delicadeza, respeito e cordialidade, vendo sempre neles a Deus” (SLM, Carta 361, Junho de 1653).
Padre Ilson Luis Hübner
Congregação da Missão
Diretor Nacional da JMV Brasil
-
ARTIGO | O amor vê o invisível – Olhares que se conectam pelo amor incondicional
Durante o mês de setembro fomos motivados/as a refletir sobre alguns textos que tratam o tema da essência do carisma vicentino em nossas realidades de missão. Sendo assim, neste artigo somos impulsionados/as a nos debruçarmos sobre dois aspectos no âmbito do amor incondicional, enfatizando os olhares de Jesus Cristo e São Vicente Paulo.
Deus olha a nossa essência e conhece as motivações do nosso coração. Perguntemo-nos: o meu olhar de jovem membro da Associação está em sintonia com o olhar de Jesus Cristo? Devemos ter em mente que o carisma vicentino é a pupila dos nossos olhos que, em nossa própria identidade, deve estar dilatada sempre em direção aos pobres. Essa é a essência da Associação Mariana Vicentina.
Tendo isso em vista, devemos sempre nos perguntar: como vemos e olhamos a realidade atual? Estamos abertos para uma mudança de visão? Às vezes temos medo de buscar novos horizontes, de nos desafiar diante do novo, e acabamos esquecendo que a pior cegueira é não querer mudar a direção do olhar para tentar enxergar a necessidade do outro, bem como nos aproximarmos daqueles que mais carecem de olhar humano. É preciso ter um olhar de compaixão, de ternura, cheio de calor e empatia. O nosso olhar deve vir do coração, de um coração que ama profundamente.
Ter um olhar holístico e vicentino é saber olhar em profundidade sobre a dor e o sofrimento das pessoas. Ter um olhar direcionado é ter atitudes de acolhida, isto é, demostrar ao outro que ele é importante, independentemente de quem seja, pois é uma pessoa humana que está à nossa frente e ela precisa ser olhada com respeito, com a consciência de que todo ser humano é sagrado e traz em si o segredo de Deus.
Convido você a pensar comigo nestes dois olhares: olhar de Cristo e São Vicente. O que eles nos dizem?
Deixamo-nos olhar por Cristo? O olhar de Cristo nos incomoda, nos desinstala e muitas vezes nos desconcerta. Temos a coragem de nos deixarmos olhar por Ele? Somente quando nos deixamos olhar pelo Senhor é que somos capazes de contemplar o que São Vicente contemplou.
São olhares que nos movem, nos questionam e nos colocam em movimento. Ao contemplar algo é necessário fixar o olhar para identificá-lo e o olhar de São Vicente foi assim: um olhar de amizade, compreensão, perdão, amor e caridade.
Olhar o mundo com a mesma ótica de Jesus e São Vicente é saber contemplar a realidade, observar o contexto, olhar para próximo e trazê-lo para junto de nós. Quando olhamos para o outro com um “Olhar de Caridade”, brota em nós o desejo de nos ocuparmos da situação, agimos com empatia e nos sentimos no dever de nos colocarmos no lugar daquele que sofre.
O olhar de VICENTE DE PAULO esteve sempre aberto a todas as formas de vulnerabilidade do seu tempo e sempre se deixava tocar pelas realidades. O olhar vicentino é, sobretudo, cristão; exige profundidade, atenção e nos remete a uma reflexão, pois o poder do olhar é capaz de restituir o amor humano muitas vezes inebriado pelas misérias do nosso tempo.
Somos Juventude Mariana Vicentina, pertencemos à Família Vicentina. Com Vicente aprendamos a olhar as realidades do nosso tempo, tendo em mente que não basta apenas olhar, ou seja, temos que ter a certeza de que o olhar é um compromisso que nos leva à contemplação, ao passo que deve nos levar a ação, imbuindo em cada um de nós uma responsabilidade intransferível.
São Vicente partilhava do mesmo olhar que Jesus tinha, ou melhor, tem para com os Pobres. O olhar é algo humano, cheio de calor e pleno de vida. Antes de tudo, é preciso aprender a olhar e foi com o Olhar que Jesus acolheu os pobres e os desamparados daquela época, mudando as estruturas sociais e políticas que os oprimiam.
Hoje existem diversas formas de pobrezas modernas, e nós como Associação jamais poderemos ficar alienados destas realidades que nos circundam. O Papa Francisco nos mostra um jeito novo de servir e de ser Igreja no mundo atual, sejamos nós protagonistas deste novo olhar, um olhar que resgata a vida e devolve a dignidade àqueles que caminham à margem da sociedade.
Quando olhamos e somos olhados de uma forma real e verdadeira, acontece uma conexão inexplicável. Como podemos ler nos evangelhos, Jesus olha para os seus discípulos e a partir do olhar os chama para segui-lo.
Peçamos a graça para enxergarmos as várias realidades do nosso tempo com o mesmo olhar de Deus e inspirados pelo olhar de São Vicente de Paulo; sejamos uma Juventude Mariana Vicentina capaz de olhar além, possuidora de um olhar humanizado e destemido que nos impulsione a levar a mensagem do dia 18 de julho a todos os espaços nos quais nos fazemos presentes e assim traçarmos novas metas que nos ajudem a Ser, Amar e Construir um mundo mais fraterno.
Ir. Geovani de Fátima Domingues
Filha da Caridade
Assessora Nacional da JMV Brasil
-
ARTIGO | Um carisma em saída
Há duas semanas escutávamos na segunda leitura um dos textos bíblicos que mais me chama a atenção e, para mim, mais se assemelha ao Carisma Vicentino. O texto, de apenas cinco versículos, traz uma mensagem clara e muito impactante para nós cristãos e membros da família inspirada em São Vicente de Paulo: “A Fé sem obras é morta.” (Tg, 2,26).
Escutando e lendo o texto, podemos analisar nossa vida como cristãos e vicentinos. Te convido a refletir: sou jovem, católico, vicentino, vou à missa todos os domingos, ajudo nos afazeres domésticos e me considero boa pessoa. Parabéns! Tudo isso é importante, mas e aí? Qual é o algo a mais, o nosso diferencial como cristão vicentino?
Aqui cabe mencionar que o Carisma de São Vicente de Paulo é um carisma mais prático que teórico. Em 1617, na França, o padre Vicente acompanhava todo o sofrimento dos mais pobres. Diante de tanta desgraça, ele optou por ir à ação para combater as injustiças da época, não ficou de braços cruzados. Vicente não ficou na zona de conforto, sua vida foi de absoluta entrega a Deus e aos pobres. Tinha uma fé viva, com obras concretas; vivia o Evangelho no seu dia a dia.
Respondendo à pergunta anterior, o nosso diferencial como membros da Juventude Mariana Vicentina é, como bem menciona a Carta de São Tiago, são as obras. Pra quê tenho fé se não a ponho em prática? A fé sem obras não vale nada, é morta. Guiados por Maria e inspirados por São Vicente de Paulo, temos ainda mais o dever de comprometer nos trabalhos sociais e colocar na prática a vivência da nossa fé. Precisamos ressuscitar nossa fé “colocando a mão na massa”. Podemos dizer que ter fé é fácil, mas ela precisa levar-nos a estender a mão àquele que sofre. Temos São Vicente como referência, que sem as “comodidades” que temos atualmente, ele buscaria levar o pão a quem passa fome.
No contexto social conturbado que vivemos, há muitas pessoas que precisam da nossa ajuda. Não podemos dar as costas para o nosso irmão que sofre. Vale lembrar que quando não atendemos ao estrangeiro, enfermo, nu, prisioneiro e/ou ao estrangeiro, estamos deixando de atender ao próprio Cristo. “Senhor, quando te vimos com fome, ou com sede, ou estrangeiro, ou nu, ou enfermo, ou na prisão, e não te servimos? Então lhes responderá, dizendo: em verdade vos digo que, quando a um destes pequeninos o não fizestes, não o fizestes a mim”, (Mt 25: 44,45).
O mundo está doente, com muitas misérias, então o que precisamos fazer para ajudar a combater as injustiças? Temos que mudar as estruturas. Mas como podemos fazer isso? Usando uma metáfora muito conhecida dentro da Família Vicentina: damos o peixe àquele irmão que tem fome, mas ensinamos a pescar. Se ajudamos diariamente ou a cada semana ele não vai sair dessa situação de pobreza. Temos que ajudá-lo e guiá-lo para que possa seguir em frente com as próprias pernas.
Me atrevo a dizer, meus irmãos e irmãs, que não estaremos no Reino dos Céus se não cumprirmos o mandato de Jesus. Não nos salvaremos só com fé e nem somente com as obras. A fé e as obras devem andar juntas. Peçamos perdão a Deus por todas as vezes que negligenciamos ajuda aos mais pequenos e que Ele nos ajude a ser melhores pessoas e, assim como São Vicente fez, possamos ser testemunhas de alegria de ser cristãos de verdade.
André Peixoto
Jornalista, membro da JMV
Ex-voluntário de língua portuguesa do Secretariado Internacional
-
ARTIGO | A caridade brota no coração daquele que o segue
O seguimento a Jesus Cristo é um tema que se faz sempre atual e desafiante para toda a Igreja, de modo especial para cada um dos jovens. A Juventude Mariana Vicentina, enquanto associação de jovens leigos que, através do pedido de Nossa Senhora a Santa Catarina Labouré, tem o dever de estar seguindo a Cristo, tendo-o como modelo de caridade e serviço, adquirindo assim, sua essência missionária.
Deus ao enviar Jesus Cristo à terra, apresenta para nós o modelo de salvação que se dá por amor. Deus ama tanto a cada um de nós que aceitou que seu Filho morresse na Cruz para nos salvar; esta morte, não foi em vão, pois devido a este mesmo amor é que Ele ressuscitou. Seu sacrifício salvífico é o que nos dá a plena certeza do amor de Deus.
Seguir a Jesus é encontrar-se com Ele, porém este encontro é vivenciado de maneira transformadora, do mesmo modo que aconteceu com o Apóstolo Paulo: “Já não sou mais eu que vivo, mas Cristo que vive em mim.” (Cf. Gl 2, 20). Através do contato com Jesus é que nos encontramos com Deus e a nossa vivência de fé é o que nos faz encontrar-nos com o Cristo.
Seguir a Ele, quer dizer passar pelo caminho do calvário, pela Cruz, mas na confiança plena de que a ressurreição virá, confirmando-nos numa convicção de que Ele caminha conosco. Deus está conosco. Sua ressureição é o que ilumina os caminhos de nossas comunidades, de nossos grupos, chegando até cada um de nossos jovens.
Durante este período pandêmico que estamos passando, o desafio de seguir a Cristo tornou-se mais desafiante para cada um de nós: pessoas conhecidas, familiares, jovens de nossa Associação, tiveram a sua vida ceifada por este vírus que dizimou diversos sonhos. Injustiças, desigualdades, preconceitos, incoerência com a verdade, desrespeito com a vida humana e diversos outros fatores falaram e, infelizmente, ainda continuam a falar muito mais alto do que o respeito, a dignidade da pessoa humana e os valores evangélicos.
Vivemos em uma sociedade que é pautada e norteada pelo individualismo e pelo capitalismo desenfreado. Não temos mais tempo para ouvir o outro, para verdadeiramente nos atentarmos para a sua real necessidade. E devido à falta de contato, fomos privados de compartilhar sentimentos básicos de convivência, como o abraço e o toque. E isso nos afastou mais ainda do seguimento a Cristo, que nos propõe a vivência do Amor Ágape.
Porém, isto não quer dizer que ficamos estacionados, parados frente a todo este sofrimento, percebemos brotar, em nossos corações a esperança de dias melhores. Em sua mensagem ao povo brasileiro, em abril deste ano, por ocasião da celebração da Páscoa, o Papa Francisco fez a cada um de nós um apelo à esperança, dizendo que não podemos desistir e precisamos manter a chama da esperança e caridade acessas, “Nossa esperança nos dá coragem para nos reerguemos. A caridade nos impulsiona a chorar com os que choram e a dar a mão, sobretudo aos mais necessitados, para que possam voltar a sorrir”.
Este apelo do Papa, mostra a cada um de nós uma luz, uma continuidade ao seguimento de Cristo que, quando esteve na terra, vivenciava o amor de Deus no contato com àqueles que estavam à margem da sociedade. Este amor só pode ser completo se passarmos pela vivência da Caridade. O coração de cada jovem mariano vicentino deve estar impelido por este espírito caridoso de acolhida, partilha e de promoção de vida digna a todos, sem exclusão.
Seguir a Jesus Cristo requer que cada um de nós, membros da Juventude Mariana Vicentina, estejamos atentos, primeiramente à linguagem de nosso tempo, perguntando-nos: qual a necessidade do Pobre? De que forma podemos verdadeiramente contribuir em sua promoção/crescimento? Devemos ter a nossa vivência espiritual em sintonia com nossos trabalhos, vivenciando uma oração encarnada, voltada para nossos trabalhos e ações como Associação.
Dessa forma, poderemos avançar, promover, testemunhar e evangelizar através do seguimento de Jesus. Este seguir, como discípulos-missionários nos impele a dar continuidade à sua missão, vivenciando a Caridade em todos os lugares que estivermos. Através de nossos momentos de formações, nos preparamos para sermos agentes de pastorais, seguidores de Cristo e transformadores de nossa realidade.
Alisson Bruno Felipe Medeiros
Congregação da Missão
Seminarista e membro da Comissão de Formação da JMV Brasil
-
ARTIGO | O carisma vicentino e a JMV: perspectivas frente a pandemia
Na Semana da Pátria, como costuma-se chamar a semana nos primeiros dias do mês de setembro, uma imagem postada nas redes me fez refletir: um grupo vestido de verde e amarelo em caminhada com bandeiras do Brasil, em ato bem cívico. O fotógrafo captou a imagem justamente no momento em que passam ao lado de uma pessoa caída e nitidamente mostra um casal indiferente àquela pessoa ao chão… Como se não tivesse nada ali.
Apesar de ser postada numa semana em que o “patriotismo” está “à flor da pele”, onde se grita” por “independência” e uma pátria justa e outros gritos de ordem, a imagem revela uma insanidade. Como gritar por um país mais justo, sem encarar a injustiça latente? Uma cena que se tornou corriqueira. Todo dia nos deparamos com o crescente contingente em situação de rua, e, agora agravados nos últimos meses de Pandemia.
A cena relatada me remeteu a uma das parábolas de misericórdia apresentadas no Evangelho de Lucas (10,25-37) e logo me veio a pergunta: “Quem é o meu próximo?”. Essa Parábola nos interpela como vicentinos e vicentinas. Confesso que as vezes nos sentimos impotentes diante do batalhão de “caídos na estrada”, mas é sintomático quando não “sentimos”, quando a apatia e a indiferença tomam conta de nós e que nem se quer trazemos à nossa oração essas vítimas. Devemos ser vigilantes para que essas cenas, mais frequentes do que imaginamos, não se tornem para nós paisagismos, ou seja, não contribuirmos para que esses seres humanos de dignidade subtraída e direitos negados se tornem invisíveis.
Quando nos anos 1980 nossa Associação assumiu a São Vicente como seu patrono, passando de JM para JMV, mudou a perspectiva e sua ação alargou os horizontes em vista de uma maior alteridade. Não que o “M” já não traga em si esse olhar para o outro, mas só o Marial, como se chamava na época, apenas enfatizava um aspecto de Maria: mais oracional; e não se aprofundava a Espiritualidade do Magnificat. E lembro muito bem que éramos conhecidos como o grupo das irmãs (confesso que isso me incomodava porque desejava algo mais). Então descobrimos que Vicente sempre esteve lá. Nossa origem não teria acontecido se ele, ouvindo o apelo de Deus não tivesse fundado a Companhia das Filhas da Caridade, pois a portadora da Mensagem, Catarina Labouré, era noviça da Companhia.
Esse Carisma precisa sempre ser revisitado, quadricentenário e contemporâneo. E nós da JMV somos convocados a sermos artífices dessa atualização do Carisma.
A Pandemia do novo coronavírus revelou as feridas abertas do mundo: potencializou os abismos já crescentes entre a parcela da sociedade de regalias e os desprovidos de dignidade e, ao mesmo tempo, descobrimos que estamos no mesmo barco, somos “barro”, mesmo que da maneira mais dolorosa tivemos que compreender o destino comum de toda humanidade. A Pandemia também converteu muitos corações: quem aproveitou a oportunidade cresceu em humanidade. Muitos grupos se prontificaram a sanar a necessidade primária: a fome. A Família Vicentina uniu esforços para efetivar sua ação.
E nós da JMV? Como estamos processando tudo isso?
Somos chamados a sermos Samaritanos para resgatar a humanidade caída e não passar ao largo, e, isso exige de cada um ir ao encontro do outro. Como nos diz o Papa Francisco na Mensagem para o dia Mundial das Comunicações de 2021: “Vinde e verás (Jo 1,46) – Comunicar encontrando as pessoas onde estão e como são”.
Em muitas realidades nossos grupos precisaram se reinventar e ainda estamos nesse processo de reconstrução. Uma coisa é certa, a massa de excluídos aumentou. Precisamos ter dois olhares: um voltado para dentro de nossa Associação: em muitas realidades nossos membros estão, muitas vezes, na mesma situação de vulnerabilidade de nossos “assistidos”, precisamos ter essa sensibilidade para cuidar dos nossos. E um olhar para fora: ir para as realidades de abandono. Não apenas para prover as necessidade básicas mas ir além resgatar a dignidade, colocar em prática o que refletíamos sobre “Mudanças de Estruturas”. Cobrar dos órgãos competentes soluções. Muitos de nossos grupos retomaram e potencializaram a ação junto aos pobres e excluídos; uma ação ousada com destemor colocando em riscos suas próprias vidas nesse tempo assolado pela Pandemia.
Nesse tempo, o Conselho de São Vicente é bem real, “Devemos ir aos pobres sem nos perder a nós mesmos”. Isso vale para todas as dimensões: humano-psico-social. Perdemos alguns, mas como diz uma antiga canção: “o sangue dos mártires faz a semente se espalhar…”
Somos chamados a olhar para São Vicente e nos perguntar o que ele faria hoje? Afinal a Paris do século XVII vivia assolada pela peste e ele não mediu esforços para agir. A Pandemia nos desafia a exercitar o Carisma com criatividade buscando se reinventar na certeza de que “o que Deus guarda é bem guardado. É justo que nos confiemos à sua adorável Providência”. (SVP).
Antônio Júnior
Província do Recife
Publicitário e membro da Comissão de Formação da JMV Brasil
-
Assembleia Geral da JMV traça plano de missão para os próximos quatro anos e elege novo Conselho Internacional
Nos dias 15 a 18 de julho, a Juventude Mariana Vicentina Internacional realizou sua V Assembleia Geral por meio da plataforma Zoom, sob o tema “Testemunhar com Esperança”. O encontro aconteceria em julho de 2020, no entanto com a pandemia adiou-se o momento e a realização aconteceu de forma virtual em 2021. Desta forma, pôde-se contar com a participação massiva de representantes da JMV de todos os continentes, contando com mais de 200 participantes, dentre eles jovens, padres, assessores leigos e consagrados.
A JMV Brasil participou da V Assembleia e contou com representação de quatro integrantes do Conselho Nacional: Silvana Nascimento (presidente), Catarina Érika Morais (vice-presidente), Ir. Geovani Domingues (assessora religiosa) e Pe. Ilson Hubner (diretor espiritual).
Durante a Assembleia abordou-se diversos assuntos de interesse da Associação no mundo inteiro que definiram as linhas de ações para guiar a caminhada da JMV nos próximos quatros anos. O tema do encontro “Testemunhar com esperança” também guiou as discussões e para abordar o assunto contou-se com a participação de padre Guillermo Campuzano, CM que citou por diversas vezes em sua fala a mensagem de Papa Francisco no seu pontificado. Segundo ele, Francisco tem lançado um desafio aos cristãos: reavivar o valor do testemunho profético em que somos chamados desde o batismo. Tudo isso estava diretamente ligado ao tema do encontro, que significa a partir da nossa vida despertar o mundo com esperança em nossas ações enquanto Juventude Mariana Vicentina.
Além de discutir a realidade da JMV, a Assembleia também foi eletiva e elegeu o novo conselho internacional nos dias 16 e 17 de julho, tendo como representação oficial uma presidenta e uma conselheira em cada continente:
Patrícia Roppa (JMV Perú) – Presidenta
Claire Balo (JMV Filipinas) – Conselheira da Ásia
Maria Sfeir (JMV Líbano) – Conselheira da África
Catarina Érika Morais (JMV Brasil) – Conselheira da América
Marta Alves (JMV Portugal) – Conselheira da Europa
A Associação recebeu a nomeação oficial do novo padre subdiretor do Secretariado e Diretor espiritual do Conselho Internacional: Padre Kiko Magnaye CM, de Filipinas.
-
Novo grupo de Jovens Marianos, surge em meio a pandemia, na Província de Curitiba
Ao norte de Santa Catarina, conhecida pela sua preservação da mata local, grande fervor da população e igrejas belíssimas, encontra-se Itaiópolis. No dia 23 de maio a cidade de quase 22 mil habitantes recebeu a visita de membros do Conselho Provincial para a realização da cerimônia de homologação do novo grupo da Juventude Mariana Vicentina.
A missa contou com a presença do Diretor Nacional, Padre Ilson Luiz Hubner, CM, da Assessora da JMV Brasil e JMV CMM, Irmã Geovani de Fátima Domingues, FC e da Assessora da JMV Província de Curitiba, Irmã Adriana Felix Coelho, FC, além dos jovens do grupo JMV Mafra (Santa Catarina) que também estiveram presentes para dar as boas vindas ao novo grupo.
Os jovens tiveram uma introdução sobre a história, carisma e identidade da associação, os quais foram realizados em forma de palestra pela Assessora Provincial. Depois de uma pausa para confraternização e lanche, o evento continuou com a santa missa de Pentecostes às 16h, a qual foi enriquecida com a cerimônia de homologação do novo grupo de jovens, a JMV Itaiópolis. Este grupo efetivamente surgiu no início do ano de 2021, em conjunto com o grupo de cantos local, mas o trabalho com os jovens é de longa data, desde 2016 há acompanhamento dos jovens coroinhas pela atual assessora da JMV Itaiópolis, que comentou um pouco sobre a caminhada do grupo. Em entrevista a assessora comentou que o conhecimento sobre a JMV veio de seu filho, que é seminarista vicentino e, a partir disso, reuniu um grupo de jovens da igreja local e em conjunto eles decidiram transformar este grupo em um grupo oficial da JMV.
Atualmente o grupo conta com 25 jovens, o maior grupo da Província de Curitiba, com faixa etária média de 20 anos, que são super ativos na comunidade ajudando na missa com o grupo de canto ou como coroinhas. Também realizando ações sociais de arrecadação de alimentos e outros projetos internos. Desta maneira, estes jovens aguardam um futuro promissor com este novo carisma Vicentino, o que foi comentado por Adriano Rodrigues, membro mais experiente do grupo “O grupo vai virar uma família, todo mundo vai estar reunido, vai unir mais o pessoal e vai ser um momento especial. O pessoal vai querer estar junto pra rezar, cantar, conversar, vai ser uma experiência muito grande para cada um, vai transformar nossa realidade. Vamos fazer visitas, vamos conhecer pessoas, principalmente ajudar pessoas…”.
Com grande alegria que a JMV Brasil dá esta maravilhosa notícia e coloca-se em oração para que este novo grupo continue com a chama Vicentina acesa e cresça cada vez mais com o passar dos anos, que as luzes de Nossa Senhora das Graças abençoem e iluminem os caminhos destes jovens marianos.
[espro-slider id=1865]