Categoria: Artigos

  • ARTIGO | São Vicente e Santa Luísa – Reavivar o fogo do nosso servir

    ARTIGO | São Vicente e Santa Luísa – Reavivar o fogo do nosso servir

    Na história de suas vidas, suas cartas e conferências, Vicente de Paulo e Luísa de Marilac aparecem como pessoas normais com suas fragilidades e caris­mas, porém capazes de conseguir grandes graus de santidade. Mostram de forma extraordinária como o poder da Graça pode transformar vasos frágeis de argila em instrumentos eficazes do projeto divino.

    Vicente foi um jovem aventureiro vindo da roça que buscava constantemente horizontes mais amplos. Alimentou ambições para uma promoção social através do ministério sacerdo­tal para ajudar à sua família que tanto amava. Dotado de uma grande facilidade para estabelecer relações com todo tipo de pessoas, pobres e ricos eclesiásticos e políticos, nobres e plebeus, homens e mulheres, religiosos e leigos. Mais tarde ele usaria deste dom para uma boa causa: realizar o seu sonho de servir aos pobres. Homens de nosso tempo, que buscam constantemente “algo a mais” na vida, podem encontrar valores na vida de Vicente.

    Luísa, que nasceu e cresceu em meio a sofrimentos, não se deixou desanimar por eles e se lançou a perseguir os objetivos que tinha traçado para a sua vida. Foi uma boa esposa, uma mãe sempre preocupada com seu único filho. Tendo descoberto a vocação de sua vida com a ajuda de Vicente, converteu-se em sua amiga fiel e colaboradora. Juntos, fundaram as Filhas da Caridade, um caminho radicalmente novo de viver a vida consa­grada feminina em seu tempo.

    Ainda hoje são muitas as mulheres — religiosas e leigas, solteiras, viúvas e casadas — que encontraram em Luísa um modelo inspirador, um modelo que finalmente “deu certo” não obstante as limitações impostas pelo nascimento, pela natureza e as cir­cunstâncias.

    Passou o tempo, e Vicente e Luísa continuam a impactar e a inspirar gerações. O fogo de sua caridade ainda permanece acesso e aviva muitos outros. Converte o passado num pre­sente vivo que transforma.

    Eles se atreveram a sonhar…

    Durante suas vidas, Vicente e Luísa perseguiram com paixão implacável o sonho no qual acreditavam, e que era como um fogo que os consumia. Sonharam em se entregar plenamente para seguir a Jesus evangelizando e servindo aos pobres de seu tempo. Este sonho foi como a Estrela Polar que guiou cada decisão que tomaram e cada passo que deram.

    Vicente e Luísa, porém, não nasceram com este sonho. De fato, tinham outros sonhos quando jovens – sonhos como todos nós temos. Na medida em que iam realizando os primeiros sonhos, percebiam que estavam constantemente deparando-se com desgostos, fracassos, reviravoltas, mudanças inesperadas, como se uma mão invisível estivesse presente no caminho de sua realização.

    Progressivamente, Vicente e Luísa descobriram o significado destes acontecimentos que pareciam apartá-los da realização dos seus sonhos. Na verdade, não eram senão os caminhos misteriosos de Deus para lhes revelar a vocação de suas vidas. Vicente e Luísa permaneciam abertos a esta revelação e se deixavam guiar pelo Espírito.

    Tanto Vicente quanto Luísa viveram atormentados com profundas dúvidas de fé durante algum tempo: dúvidas que se convertiam em verdadeiras “noites escuras” para eles. Todavia, uma experiência iluminadora para Luísa e uma firme resolução de Vicente de servir aos pobres mudaram o curso de suas vidas. Desde esse momento em diante, Deus foi o seu absoluto. Deixaram de lado os seus primeiros sonhos para seguir o chamado de Deus… um chamado que se realiza através de acontecimentos e pessoas. Uma vez no caminho, Vicente e Luísa nunca voltaram a olhar para trás.

    Numa época de guerras intermináveis, provocadas por motivos reli­giosos e políticos, e de uma pobreza que desafia a imaginação, Vicente e Luísa atreveram-se a sonhar… um sonho aparentemente impossível. Mas, guiados e apoiados pela Providência, com os dons extraordinários com que a natureza os tinha enriquecido tão generosamente, e com a benção das circunstâncias, o sonho de Vicente e Luísa aos poucos foi tomando forma: as Damas da Caridade (hoje a AIC, Associação Internacional de Caridade), a Congregação da Missão e as Filhas da Caridade.

    Enquanto perseguiam seu sonho com firme convicção, Vicente e Luísa iluminaram, sem ter conscientes disso, novos caminhos que contribuíram significativamente na renovação da Igreja e da sociedade do século XVII na França e fora dela.

    Manter vivo seu sonho hoje…

    Ao lembrar Vicente e Luísa, estamos agradecidos pelo carisma que Deus lhes deu, carisma que como fundadores transmitiram à Família Vicentina como um dom à Igreja e ao mundo.

    Fidelidade criativa é o outro rosto da gratidão pelo dom de Vicente e Luísa. Esta fidelidade nos remete às origens da história Vicentina… nos convida a ler o presente à luz do seu sonho… a reler seu sonho à luz do momento atual.

    Se Vicente e Luísa estivessem hoje entre nós, como estariam lendo a situação atual à luz do Cristo que queriam seguir? Quais palavras nos diriam? Como responderiam às novas situações com as que nos enfrentamos hoje? Que opções fariam?

    O nosso mundo é radicalmente diferente em muitos aspectos ao mundo de Vicente e Luísa. Novas perguntas nos pressionam. Num mundo que tem experimentada a violência da pandemia que acaba gerado novas formas de pobreza, novos rostos de pessoas pobres, quais e quem devem ser as nossas prioridades? Vicente e Luísa estiveram constantemente atentos aos acontecimentos como “lugares” para o encontro com o Espírito. Num mundo obcecado pelo “instante” e o “extra rápido”, e que se apresenta egoísta, amedrontado, como devemos agir para estar realmente atentos e discernir?

    O nosso mundo pós-pandêmico almeja ser mais inclusivo, ir além das fronteiras de raça, etnia, classe, gênero e religião. Em concreto, que implica isto nas nossas obras entre os pobres… para nossa colaboração?

    Nosso mundo tem se tornado mais e mais secularizado, girando sobre si mesmo… e que agora perde todos seus parâmetros de segurança, parece voltar agora com uma preocupação social, abrindo-se as pessoas num resgate por solidariedade e justiça social. Quais os desafios que isto representa para nosso serviço Vicentino, onde a visão de fé e a motivação da caridade são primordiais?

    Vivemos em meio a uma inaudita crise global… moral, cultural, econômica e espiritual e agora também de saúde com uma projeção de novas formas de pobreza e exclusão. Que releitura faríamos do sonho de Vicente e Luísa à luz desta realidade?

    O Povo de Israel fez uma releitura da sua Aliança com Yahweh desde a pers­pectiva da crise experimentada durante o exílio. Agindo desse modo, redescobriram o significado de sua identidade como Povo de Deus. Vicente fez a releitura do Evangelho desde sua experiência do pobre e a confusão que ameaçava destroçar a sociedade e a Igreja de seu tempo. Neste sentido, ele descobriu a sua vocação na vida e gerou um sonho que marcou profundamente seu tempo.

    Progredindo juntos… 

    Somos herdeiros(as) de um grande legado… filhos e filhas de dois grandes profetas da caridade. Esta herança comum nos orgulha. Nossos vínculos se entrelaçam. Com um grande número de membros em todos os continentes, nós, como Família Vicentina, temos um grande potencial para estabelecer um diferencial em nosso tempo, como Vicente e Luísa o fizeram no seu.

    Temos os “genes” de Vicente e de Luísa. Temos seu coração e seu espírito. A fidelidade ao seu legado nos insta a progredir juntos… para ser profetas da caridade no mundo atual. A realidade global de hoje exige testemunho coletivo. Nos resta a ser não simplesmente profetas individuais, senão uma “família de profetas”.

    Num tempo no qual a injustiça tem assumido uma dimensão glo­bal, o sonho de Vicente e Luísa nos impulsiona a desenvolver redes de caridade. Redes de caridade atentas aos acontecimentos e aos pobres, criativas e audaciosas nas suas respostas, que manifestam a novidade perene do carisma Vicentino. Elas criam ondas de esperança para o futuro.

    “E seguro que quando a caridade mora numa alma, toma posse de todas as suas potencias; no lhe dá descanso; é um fogo que está constantemente ativo; una vez que a pessoa está infla­mada por ela, esta a mantém enfeitiçada” (SVP, Repetição de Oração, 4 de Agosto de 1655).

    “Por favor, continuem a servir aos nossos queridos mestres com grande delicadeza, respeito e cordialidade, vendo sempre neles a Deus” (SLM, Carta 361, Junho de 1653).


    Padre Ilson Luis Hübner

    Congregação da Missão

    Diretor Nacional da JMV Brasil

  • ARTIGO | O amor vê o invisível – Olhares que se conectam pelo amor incondicional

    ARTIGO | O amor vê o invisível – Olhares que se conectam pelo amor incondicional

    Durante o mês de setembro fomos motivados/as a refletir sobre alguns textos que tratam o tema da essência do carisma vicentino em nossas realidades de missão. Sendo assim, neste artigo somos impulsionados/as a nos debruçarmos sobre dois aspectos no âmbito do amor incondicional, enfatizando os olhares de Jesus Cristo e São Vicente Paulo.

    Deus olha a nossa essência e conhece as motivações do nosso coração. Perguntemo-nos: o meu olhar de jovem membro da Associação está em sintonia com o olhar de Jesus Cristo? Devemos ter em mente que o carisma vicentino é a pupila dos nossos olhos que, em nossa própria identidade, deve estar dilatada sempre em direção aos pobres. Essa é a essência da Associação Mariana Vicentina.

    Tendo isso em vista, devemos sempre nos perguntar: como vemos e olhamos a realidade atual? Estamos abertos para uma mudança de visão? Às vezes temos medo de buscar novos horizontes, de nos desafiar diante do novo, e acabamos esquecendo que a pior cegueira é não querer mudar a direção do olhar para tentar enxergar a necessidade do outro, bem como nos aproximarmos daqueles que mais carecem de olhar humano. É preciso ter um olhar de compaixão, de ternura, cheio de calor e empatia. O nosso olhar deve vir do coração, de um coração que ama profundamente.

    Ter um olhar holístico e vicentino é saber olhar em profundidade sobre a dor e o sofrimento das pessoas. Ter um olhar direcionado é ter atitudes de acolhida, isto é, demostrar ao outro que ele é importante, independentemente de quem seja, pois é uma pessoa humana que está à nossa frente e ela precisa ser olhada com respeito, com a consciência de que todo ser humano é sagrado e traz em si o segredo de Deus.

    Convido você a pensar comigo nestes dois olhares: olhar de Cristo e São Vicente. O que eles nos dizem?

    Deixamo-nos olhar por Cristo? O olhar de Cristo nos incomoda, nos desinstala e muitas vezes nos desconcerta. Temos a coragem de nos deixarmos olhar por Ele?  Somente quando nos deixamos olhar pelo Senhor é que somos capazes de contemplar o que São Vicente contemplou.

    São olhares que nos movem, nos questionam e nos colocam em movimento. Ao contemplar algo é necessário fixar o olhar para identificá-lo e o olhar de São Vicente foi assim: um olhar de amizade, compreensão, perdão, amor e caridade.

    Olhar o mundo com a mesma ótica de Jesus e São Vicente é saber contemplar a realidade, observar o contexto, olhar para próximo e trazê-lo para junto de nós. Quando olhamos para o outro com um “Olhar de Caridade”, brota em nós o desejo de nos ocuparmos da situação, agimos com empatia e nos sentimos no dever de nos colocarmos no lugar daquele que sofre.

    O olhar de VICENTE DE PAULO esteve sempre aberto a todas as formas de vulnerabilidade do seu tempo e sempre se deixava tocar pelas realidades. O olhar vicentino é, sobretudo, cristão; exige profundidade, atenção e nos remete a uma reflexão, pois o poder do olhar é capaz de restituir o amor humano muitas vezes inebriado pelas misérias do nosso tempo.

    Somos Juventude Mariana Vicentina, pertencemos à Família Vicentina. Com Vicente aprendamos a olhar as realidades do nosso tempo, tendo em mente que não basta apenas olhar, ou seja, temos que ter a certeza de que o olhar é um compromisso que nos leva à contemplação, ao passo que deve nos levar a ação, imbuindo em cada um de nós uma responsabilidade intransferível.

    São Vicente partilhava do mesmo olhar que Jesus tinha, ou melhor, tem para com os Pobres. O olhar é algo humano, cheio de calor e pleno de vida. Antes de tudo, é preciso aprender a olhar e foi com o Olhar que Jesus acolheu os pobres e os desamparados daquela época, mudando as estruturas sociais e políticas que os oprimiam.

    Hoje existem diversas formas de pobrezas modernas, e nós como Associação jamais poderemos ficar alienados destas realidades que nos circundam. O Papa Francisco nos mostra um jeito novo de servir e de ser Igreja no mundo atual, sejamos nós protagonistas deste novo olhar, um olhar que resgata a vida e devolve a dignidade àqueles que caminham à margem da sociedade.

    Quando olhamos e somos olhados de uma forma real e verdadeira, acontece uma conexão inexplicável. Como podemos ler nos evangelhos, Jesus olha para os seus discípulos e a partir do olhar os chama para segui-lo.

    Peçamos a graça para enxergarmos as várias realidades do nosso tempo com o mesmo olhar de Deus e inspirados pelo olhar de São Vicente de Paulo; sejamos uma Juventude Mariana Vicentina capaz de olhar além, possuidora de um olhar humanizado e destemido que nos impulsione a levar a mensagem do dia 18 de julho a todos os espaços nos quais nos fazemos presentes e assim traçarmos novas metas que nos ajudem a Ser, Amar e Construir um mundo mais fraterno.


    Ir. Geovani de Fátima Domingues

    Filha da Caridade

    Assessora Nacional da JMV Brasil

  • ARTIGO | Um carisma em saída

    ARTIGO | Um carisma em saída

    Há duas semanas escutávamos na segunda leitura um dos textos bíblicos que mais me chama a atenção e, para mim, mais se assemelha ao Carisma Vicentino. O texto, de apenas cinco versículos, traz uma mensagem clara e muito impactante para nós cristãos e membros da família inspirada em São Vicente de Paulo: “A Fé sem obras é morta.” (Tg, 2,26).

    Escutando e lendo o texto, podemos analisar nossa vida como cristãos e vicentinos. Te convido a refletir: sou jovem, católico, vicentino, vou à missa todos os domingos, ajudo nos afazeres domésticos e me considero boa pessoa. Parabéns! Tudo isso é importante, mas e aí? Qual é o algo a mais, o nosso diferencial como cristão vicentino?

    Aqui cabe mencionar que o Carisma de São Vicente de Paulo é um carisma mais prático que teórico. Em 1617, na França, o padre Vicente acompanhava todo o sofrimento dos mais pobres. Diante de tanta desgraça, ele optou por ir à ação para combater as injustiças da época, não ficou de braços cruzados. Vicente não ficou na zona de conforto, sua vida foi de absoluta entrega a Deus e aos pobres. Tinha uma fé viva, com obras concretas; vivia o Evangelho no seu dia a dia.

    Respondendo à pergunta anterior, o nosso diferencial como membros da Juventude Mariana Vicentina é, como bem menciona a Carta de São Tiago, são as obras. Pra quê tenho fé se não a ponho em prática? A fé sem obras não vale nada, é morta. Guiados por Maria e inspirados por São Vicente de Paulo, temos ainda mais o dever de comprometer nos trabalhos sociais e colocar na prática a vivência da nossa fé. Precisamos ressuscitar nossa fé “colocando a mão na massa”. Podemos dizer que ter fé é fácil, mas ela precisa levar-nos a estender a mão àquele que sofre. Temos São Vicente como referência, que sem as “comodidades” que temos atualmente, ele buscaria levar o pão a quem passa fome.

    No contexto social conturbado que vivemos, há muitas pessoas que precisam da nossa ajuda. Não podemos dar as costas para o nosso irmão que sofre. Vale lembrar que quando não atendemos ao estrangeiro, enfermo, nu, prisioneiro e/ou ao estrangeiro, estamos deixando de atender ao próprio Cristo. “Senhor, quando te vimos com fome, ou com sede, ou estrangeiro, ou nu, ou enfermo, ou na prisão, e não te servimos? Então lhes responderá, dizendo: em verdade vos digo que, quando a um destes pequeninos o não fizestes, não o fizestes a mim”, (Mt 25: 44,45).

    O mundo está doente, com muitas misérias, então o que precisamos fazer para ajudar a combater as injustiças? Temos que mudar as estruturas. Mas como podemos fazer isso? Usando uma metáfora muito conhecida dentro da Família Vicentina: damos o peixe àquele irmão que tem fome, mas ensinamos a pescar. Se ajudamos diariamente ou a cada semana ele não vai sair dessa situação de pobreza. Temos que ajudá-lo e guiá-lo para que possa seguir em frente com as próprias pernas.

    Me atrevo a dizer, meus irmãos e irmãs, que não estaremos no Reino dos Céus se não cumprirmos o mandato de Jesus. Não nos salvaremos só com fé e nem somente com as obras. A fé e as obras devem andar juntas. Peçamos perdão a Deus por todas as vezes que negligenciamos ajuda aos mais pequenos e que Ele nos ajude a ser melhores pessoas e, assim como São Vicente fez, possamos ser testemunhas de alegria de ser cristãos de verdade.


    André Peixoto

    Jornalista, membro da JMV

    Ex-voluntário de língua portuguesa do Secretariado Internacional

     

     

  • ARTIGO | A caridade brota no coração daquele que o segue

    ARTIGO | A caridade brota no coração daquele que o segue

    O seguimento a Jesus Cristo é um tema que se faz sempre atual e desafiante para toda a Igreja, de modo especial para cada um dos jovens. A Juventude Mariana Vicentina, enquanto associação de jovens leigos que, através do pedido de Nossa Senhora a Santa Catarina Labouré, tem o dever de estar seguindo a Cristo, tendo-o como modelo de caridade e serviço, adquirindo assim, sua essência missionária.

    Deus ao enviar Jesus Cristo à terra, apresenta para nós o modelo de salvação que se dá por amor. Deus ama tanto a cada um de nós que aceitou que seu Filho morresse na Cruz para nos salvar; esta morte, não foi em vão, pois devido a este mesmo amor é que Ele ressuscitou. Seu sacrifício salvífico é o que nos dá a plena certeza do amor de Deus.

    Seguir a Jesus é encontrar-se com Ele, porém este encontro é vivenciado de maneira transformadora, do mesmo modo que aconteceu com o Apóstolo Paulo: “Já não sou mais eu que vivo, mas Cristo que vive em mim.” (Cf. Gl 2, 20). Através do contato com Jesus é que nos encontramos com Deus e a nossa vivência de fé é o que nos faz encontrar-nos com o Cristo.

    Seguir a Ele, quer dizer passar pelo caminho do calvário, pela Cruz, mas na confiança plena de que a ressurreição virá, confirmando-nos numa convicção de que Ele caminha conosco. Deus está conosco. Sua ressureição é o que ilumina os caminhos de nossas comunidades, de nossos grupos, chegando até cada um de nossos jovens.

    Durante este período pandêmico que estamos passando, o desafio de seguir a Cristo tornou-se mais desafiante para cada um de nós: pessoas conhecidas, familiares, jovens de nossa Associação, tiveram a sua vida ceifada por este vírus que dizimou diversos sonhos. Injustiças, desigualdades, preconceitos, incoerência com a verdade, desrespeito com a vida humana e diversos outros fatores falaram e, infelizmente, ainda continuam a falar muito mais alto do que o respeito, a dignidade da pessoa humana e os valores evangélicos.

    Vivemos em uma sociedade que é pautada e norteada pelo individualismo e pelo capitalismo desenfreado. Não temos mais tempo para ouvir o outro, para verdadeiramente nos atentarmos para a sua real necessidade. E devido à falta de contato, fomos privados de compartilhar sentimentos básicos de convivência, como o abraço e o toque. E isso nos afastou mais ainda do seguimento a Cristo, que nos propõe a vivência do Amor Ágape.

    Porém, isto não quer dizer que ficamos estacionados, parados frente a todo este sofrimento, percebemos brotar, em nossos corações a esperança de dias melhores. Em sua mensagem ao povo brasileiro, em abril deste ano, por ocasião da celebração da Páscoa, o Papa Francisco fez a cada um de nós um apelo à esperança, dizendo que não podemos desistir e precisamos manter a chama da esperança e caridade acessas, “Nossa esperança nos dá coragem para nos reerguemos. A caridade nos impulsiona a chorar com os que choram e a dar a mão, sobretudo aos mais necessitados, para que possam voltar a sorrir”.

    Este apelo do Papa, mostra a cada um de nós uma luz, uma continuidade ao seguimento de Cristo que, quando esteve na terra, vivenciava o amor de Deus no contato com àqueles que estavam à margem da sociedade. Este amor só pode ser completo se passarmos pela vivência da Caridade. O coração de cada jovem mariano vicentino deve estar impelido por este espírito caridoso de acolhida, partilha e de promoção de vida digna a todos, sem exclusão.

    Seguir a Jesus Cristo requer que cada um de nós, membros da Juventude Mariana Vicentina, estejamos atentos, primeiramente à linguagem de nosso tempo, perguntando-nos: qual a necessidade do Pobre? De que forma podemos verdadeiramente contribuir em sua promoção/crescimento? Devemos ter a nossa vivência espiritual em sintonia com nossos trabalhos, vivenciando uma oração encarnada, voltada para nossos trabalhos e ações como Associação.

    Dessa forma, poderemos avançar, promover, testemunhar e evangelizar através do seguimento de Jesus. Este seguir, como discípulos-missionários nos impele a dar continuidade à sua missão, vivenciando a Caridade em todos os lugares que estivermos. Através de nossos momentos de formações, nos preparamos para sermos agentes de pastorais, seguidores de Cristo e transformadores de nossa realidade.


    Alisson Bruno Felipe Medeiros

    Congregação da Missão

    Seminarista e membro da Comissão de Formação da JMV Brasil

  • ARTIGO | O carisma vicentino e a JMV: perspectivas frente a pandemia

    ARTIGO | O carisma vicentino e a JMV: perspectivas frente a pandemia

    Foto: Sarah Teófilo (@sarah.teofilo)

    Na Semana da Pátria, como costuma-se chamar a semana nos primeiros dias do mês de setembro, uma imagem postada nas redes me fez refletir: um grupo vestido de verde e amarelo em caminhada com bandeiras do Brasil, em ato bem cívico. O fotógrafo captou a imagem justamente no momento em que passam ao lado de uma pessoa caída e nitidamente mostra um casal indiferente àquela pessoa ao chão… Como se não tivesse nada ali.

    Apesar de ser postada numa semana em que o “patriotismo” está “à flor da pele”, onde se grita” por “independência” e uma pátria justa e outros gritos de ordem, a imagem revela uma insanidade. Como gritar por um país mais justo, sem encarar a injustiça latente?  Uma cena que se tornou corriqueira. Todo dia nos deparamos com o crescente contingente em situação de rua, e, agora agravados nos últimos meses de Pandemia.

    A cena relatada me remeteu a uma das parábolas de misericórdia apresentadas no Evangelho de Lucas (10,25-37) e logo me veio a pergunta: “Quem é o meu próximo?”. Essa Parábola nos interpela como vicentinos e vicentinas.  Confesso que as vezes nos sentimos impotentes diante do batalhão de “caídos na estrada”, mas é sintomático quando não “sentimos”, quando a apatia e a indiferença tomam conta de nós e que nem se quer trazemos à nossa oração essas vítimas. Devemos ser vigilantes para que essas cenas, mais frequentes do que imaginamos, não se tornem para nós paisagismos, ou seja, não contribuirmos para que esses seres humanos de dignidade subtraída e direitos negados se tornem invisíveis.

    Quando nos anos 1980 nossa Associação assumiu a São Vicente como seu patrono, passando de JM para JMV, mudou a perspectiva e sua ação alargou os horizontes em vista de uma maior alteridade. Não que o “M” já não traga em si esse olhar para o outro, mas só o Marial, como se chamava na época, apenas enfatizava um aspecto de Maria: mais oracional; e não se aprofundava a Espiritualidade do Magnificat. E lembro muito bem que éramos conhecidos como o grupo das irmãs (confesso que isso me incomodava porque desejava algo mais). Então descobrimos que Vicente sempre esteve lá. Nossa origem não teria acontecido se ele, ouvindo o apelo de Deus não tivesse fundado a Companhia das Filhas da Caridade, pois a portadora da Mensagem, Catarina Labouré, era noviça da Companhia.

    Esse Carisma precisa sempre ser revisitado, quadricentenário e contemporâneo. E nós da JMV somos convocados a sermos artífices dessa atualização do Carisma.

    A Pandemia do novo coronavírus revelou as feridas abertas do mundo: potencializou os abismos já crescentes entre a parcela da sociedade de regalias e os desprovidos de dignidade e, ao mesmo tempo, descobrimos que estamos no mesmo barco, somos “barro”, mesmo que da maneira mais dolorosa tivemos que compreender o destino comum de toda humanidade.  A Pandemia também converteu muitos corações: quem aproveitou a oportunidade cresceu em humanidade. Muitos grupos se prontificaram a sanar a necessidade primária: a fome. A Família Vicentina uniu esforços para efetivar sua ação.

    E nós da JMV? Como estamos processando tudo isso?

    Somos chamados a sermos Samaritanos para resgatar a humanidade caída e não passar ao largo, e, isso exige de cada um ir ao encontro do outro. Como nos diz o Papa Francisco na Mensagem para o dia Mundial das Comunicações de 2021: “Vinde e verás (Jo 1,46) – Comunicar encontrando as pessoas onde estão e como são”.

    Em muitas realidades nossos grupos precisaram se reinventar e ainda estamos nesse processo de reconstrução. Uma coisa é certa, a massa de excluídos aumentou.  Precisamos ter dois olhares: um voltado para dentro de nossa Associação: em muitas realidades nossos membros estão, muitas vezes, na mesma situação de vulnerabilidade de nossos “assistidos”, precisamos ter essa sensibilidade para cuidar dos nossos. E um olhar para fora: ir para as realidades de abandono. Não apenas para prover as necessidade básicas mas ir além resgatar a dignidade, colocar em prática o que refletíamos sobre “Mudanças de Estruturas”. Cobrar dos órgãos competentes soluções. Muitos de nossos grupos retomaram e potencializaram  a ação junto aos pobres e excluídos; uma ação ousada com destemor colocando em riscos suas próprias vidas nesse tempo assolado pela Pandemia.

    Nesse tempo, o Conselho de São Vicente é bem real, “Devemos ir aos pobres sem nos perder a nós mesmos”. Isso vale para todas as dimensões: humano-psico-social. Perdemos alguns, mas como diz uma antiga canção: “o sangue dos mártires faz a semente se espalhar…”
    Somos chamados a olhar para São Vicente e nos perguntar o que ele faria hoje? Afinal a Paris do século XVII vivia assolada pela peste e ele não mediu esforços para agir. A Pandemia nos desafia a exercitar o Carisma com criatividade buscando se reinventar na certeza de que “o que Deus guarda é bem guardado. É justo que nos confiemos à sua adorável Providência”. (SVP).


     

    Antônio Júnior

    Província do Recife

    Publicitário e membro da Comissão de Formação da JMV Brasil

  • ARTIGO | JMV Brasil 2020: transmissões e encontros sem encontros

    ARTIGO | JMV Brasil 2020: transmissões e encontros sem encontros

    No último domingo (24), a Igreja Católica comemorou o Dia Mundial das Comunicações Sociais, única celebração mundial estabelecida pelo Concílio Vaticano II pela tamanha  importância que a Igreja atribui às mídias no contexto atual.

    A data foi instituída com o decreto Inter Mirifica, durante o pontificado do Papa Paulo VI. No texto, a importância dos meios de comunicação social é ressaltada no primeiro ponto:

    “Entre as maravilhosas invenções da técnica que, principalmente nos nossos dias, o engenho humano extraiu, com a ajuda de Deus, das coisas criadas, a santa Igreja acolhe e fomenta aquelas que dizem respeito, antes de mais, ao espírito humano e abriram novos caminhos para comunicar facilmente notícias, ideias e ordens. Entre estes meios, salientam-se aqueles que, por sua natureza, podem atingir e mover não só cada um dos homens, mas também as multidões e toda a sociedade humana, como a imprensa, o cinema, a rádio, a televisão e outros que, por isso mesmo, podem chamar-se, com toda a razão meios de comunicação social”.

    Os tempos mudaram… Se há 54 anos o rádio, a televisão e os jornais impressos ditavam as regras do que deveria virar notícia, hoje, com a ascensão e consolidação das redes sociais, qualquer um pode manifestar as suas ideias com considerável alcance. Nisto, a Igreja também se modernizou e percebeu que as redes sociais podem ser um vasto campo propício para a evangelização digital.

    Entretanto, este artigo não se propõe a falar sobre as estratégias de comunicação usadas pela Igreja, mas sim, sobre o engajamento que os grupos da JMV no Brasil estão demonstrando na internet.

    Fomos pegos de surpresa! Digo surpresa porque a nossa geração nunca enfrentou algo como uma pandemia mundial, que além de tudo, mudou completamente a nossa rotina.

    A JMV como parte integrante da sociedade, também foi afetada. No dia 18 de março deste ano, o Conselho Nacional da Associação, publicou uma carta circular, recomendando a suspensão de todas as atividades presenciais da JMV no Brasil. A sugestão foi atendida prontamente e todos os grupos pararam. Porém, uma questão ficou no ar: o que fazer? Como os grupos iriam caminhar mesmo com o distanciamento social e regime de quarentena?

    A resposta veio e a JMV se reinventou… Começou de forma acanhada, é verdade. A primeira província a se movimentar foi a de Curitiba. Cronograma feito, atividades pensadas e todos os grupos envolvidos. Viva! Encontro dos núcleos provinciais em uma plataforma online, terço compartilhado no Facebook e muito mais. Não pararam, pelo contrário, se reinventaram.

    Encontro entre os grupos da Província de Curitiba, no início do mês de Maio

    Pertinho dali, no Rio de Janeiro, o núcleo de Araras também fazia a sua parte. Desde o mês de março, uma série de vídeos sobre diversos assuntos vai ao ar na sua IGTV do Instagram. Os jovens falam sobre temas como: “Obediência, fé e caridade”, “O peso da humanidade” e “Como o SIM de Maria mudou os rumos do mundo”; este último, por sinal, postado há apenas quatro dias. Além de movimentar as suas redes sociais, os membros também são chamados a assumir o protagonismo e refletir sobre temáticas pertinentes da nossa sociedade.

    No mês de maio, dedicado a Maria, veio o “boom” das lives no Instagram. Começando por Belém do Pará, em que o grupo local realizou e transmitiu, o tríduo em honra a Santa Luísa Marillac, fundadora das Filhas da Caridade.

    Adoração ao Santíssimo Sacramento transmitida pela JMV Vazante

    O recém-criado JMV Vazante, localizado no interior de Minas Gerais, é outro grupo que sabe explorar o potencial das redes. Diariamente o seu perfil é alimentado com postagens relacionadas à JMV, além de lives que vão desde a recitação do Santo Terço, até a Adoração ao Santíssimo Sacramento.

    O grupo Unijocc realiza live semanal rezando o Santo Terço
    É comum no perfil da JMV Chã Grande debates com a temática Mariana

    Para ser sincero, às vezes tenho a impressão, que a JMV Chã Grande/Recife e a JMV Unijocc/Fortaleza conseguem ser onipresentes no Instagram, tô falando sério. Sempre que eu acesso o aplicativo os dois grupos estão ao vivo. Chega a ser surreal! No último domingo (24), por exemplo, o grupo de Recife convidou o Padre Gilberto Rodrigues, CM, para falar sobre a importância de Maria no Carisma Vicentino. Enquanto os jovens de Fortaleza promoveram um louvor super animado. Sem falar nas transmissões do Santo Terço e nos debates diários de temas da nossa espiritualidade e carisma.

    Não quero ser injusto e esquecer os inúmeros outros grupos que também fazem transmissão diária, então citei apenas alguns exemplos de cada província. Porque se eu fosse fazer o mapeamento de todas as JMV’s espalhadas pelo Brasil que estão usando as redes sociais como plataforma de evangelização, a lista seria enorme.

    Vou dar um exemplo concreto a vocês. Eu administro o perfil da JMV Brasil no Instagram. No último sábado (23), ao entrar na conta para interagir com as lives, entre 18h e 20h, em torno de 20 grupos da JMV faziam transmissão ao vivo com terço, louvor, espiritualidade mariana e muito mais.

    Além da interação nas redes sociais, há também as reuniões dos grupos por vídeochamadas. Cada núcleo, na sua particularidade, e no seu dia e horário de costume.

    Mas… O que eu quero dizer com tudo isso? Primeiro: todos os grupos estão de parabéns! Souberam se reinventar em um cenário de incertezas e de medo. Mesmo que a adaptação tenha sido tardia, mas ela aconteceu.

    Segundo: Se Deus quiser, em breve, a pandemia será passado. Reuniremos-nos novamente e voltaremos a nossa rotina, mas isso não quer dizer que as redes sociais dos grupos devem ser abandonadas. Pelo contrário, as postagens devem ser intensificadas e conteúdo exclusivo produzidos para as redes. Temos de entender que esse é o presente e, muito provavelmente, o futuro. Não podemos e nem devemos ficar para trás. A evangelização digital é um processo contínuo e nós, como jovens, devemos ser os protagonistas das mudanças, como Papa Francisco pede.

    Aos grupos da JMV que não possuem perfis em redes sociais: façam! Para mim, a melhor forma de evangelizar, é dando exemplo. E se existem plataformas que facilitam esse processo, então elas se tornam indispensáveis.

    Eu tenho fé que vamos superar esses dias tão difíceis e tenho muita esperança, que enquanto JMV, continuaremos a nos reinventar, compreender o potencial das mídias atuais e reafirmar o nosso compromisso com os Jovens, a Igreja e os Pobres.

    Como dizemos aqui no Regional Natal (Província de Recife): #JMVSempre!

    Fiquem bem, fiquem em paz e fiquem em casa.

    “Oh Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós!”


     

    Suerllen Marinho

    Província do Recife

    Conselheiro Nacional de Comunicação

  • ARTIGO | Rua como moradia: uma via de mão única?

    ARTIGO | Rua como moradia: uma via de mão única?

    Essa invisibilidade provém ainda do grande descaso das políticas públicas frente a esse problema.
    Ao longo dos anos, o processo de urbanização tem-se expandido e, consequentemente, intensificado os problemas sociais, entre eles, pessoas em situação de rua, comumente chamadas de “moradores de rua”. Essa situação tornou-se tão banalizada que, atualmente, integra o cenário tanto de grandes quanto de pequenos centros urbanos. Cenário esse que é ignorado cotidianamente. Tal falta de visibilidade está relacionada ao preconceito de uma grande parte da população, tendo em vista que associam as pessoas nessa situação à criminalidade. Em vista disso, não compreendem que essa marginalização é oriunda, na maioria das vezes, de relações familiares fragilizadas, dependências químicas e da sensação de uma falsa liberdade que as ruas oferecem. Essa invisibilidade provém ainda do grande descaso das políticas públicas frente a esse problema.
    A falta de sensibilidade, por parte da sociedade, contribui para a permanência e agravamento dessa situação. Observa-se também que a realidade de quem vive nas ruas é heterogênea – composta por crianças, jovens, adultos e idosos – ou seja, uma diversidade de pessoas com diferentes motivos para estarem ali e que, muitas vezes, necessitam de um olhar solidário para sair dessa condição. No entanto, esse processo de inclusão é complexo, visto que, historicamente, esses cidadãos eram multados por “vadiagem” pelo Decreto Lei 3688/41, artigo 59 e, embora a Constituição de 1988 tenha mudado isso, o preconceito ainda prevalece.
    Outro fator contribuinte dessa condição, além da marginalização e da carência de empatia, é a falta de aplicabilidade de políticas públicas, entre elas o Decreto nº 7.053/2009 (que Institui Política Nacional para a População em Situação de Rua e seu Comitê Intersetorial de Acompanhamento e Monitoramento). É importante ressaltar que a execução do referido decreto e a atenção aos Direitos Humanos seriam capazes de oferecer a esses cidadãos uma vida digna, se eles assim o desejassem. Ademais, destaca-se a economia capitalista e ambiciosa, que prefere esconder essa realidade desumana – com a chamada Arquitetura Hostil, presente principalmente nos grandes centros urbanos, ao invés de auxiliar e incentivar o trabalho de quem realmente faz, como ONGs, Igrejas, comunidades, voluntários etc.
    Diante disso, fica evidente que a liberdade que a rua oferece é falsa e precária, já que ela é pública e não oferece privacidade. Ou seja, a rua é um lugar para passeios, encontros, divertimento etc., inviabilizando, dessa forma, qualquer exposição da intimidade, a qual vai na contra mão da dignidade humana. Assim, para reverter ou minimizar essa situação é necessário que ocorra o apoio da comunidade como um todo e dos entes federativos. Seria interessante que os Municípios – além dos serviços prestados pelo CRAS – dessem apoio a trabalhos comunitários e outros serviços voltados à fraternidade, incentivando, dessa forma, a participação de mais pessoas no processo de reinclusão da população em situação de rua, contribuindo para a sua retomada com dignidade perante elas mesmas, à sociedade e à sua família. Assim, haveria uma possibilidade de a rua como moradia tornar-se uma via de mão dupla, pois essa população fragilizada teria uma chance de escolha.

     

    Bianca Aline Salamanca

    Secretária da Província de Curitiba da JMV

  • ARTIGO | A Cultura Vocacional na Família Vicentina

    ARTIGO | A Cultura Vocacional na Família Vicentina

    A Cultura Vocacional na Família Vicentina é um tema que sempre esteve presente em nossas rodas de conversas, mas ultimamente, no mandato do atual Superior Geral da Congregação da Missão, o Pe. Tomaž Mavrič, CM, essa dinâmica aparece em forma de um projeto global, partindo do setor de Comunicação da Cúria Geral da Congregação da Missão, até alcançar todos os ramos da Família Vicentina – herdeiros do Carisma Vicentino, nos seus diversos modelos: vocação ordenada, religiosa ou leiga. A Juventude Mariana Vicentina, muito tem colaborado para manutenção do Reinado de Deus no mundo, seja por meio da fortaleza, ousadia e criatividade próprias da juventude, por seu testemunho cristão ou pequenas ações e obras que realizam em favor dos Pobres.

    Cultura Vocacional significa, assim, conhecimento, interesse privado e, sobretudo, implicação pessoal e interpessoal para construir algo no que se crer e do qual todos estão convencidos e que se converte em patrimônio de todos. Conseguiremos trilhar esse caminho revitalizando nosso carisma e promovendo a formação de nossos membros a partir de uma perspectiva vocacional, tendo em nossos projetos um espírito puramente vicentino, que tem como modelo Jesus Cristo – evangelizador e servidor dos pobres, de modo que nossa vivência de fé vá progressivamente se fazendo: a) Mentalidade: onde se evidencie princípios e convicções de nosso carisma e missão; b) Sensibilidade: gerando e reavivando em nós uma mística que se mostre pela oração e ação, e c) Práxis: sendo presença junto àqueles a quem Deus nos envia, protagonizando e difundido a nossa vocação e carisma.

    É importante que, como membros da Família Vicentina, nossos grupos, em toda a JMV, adotem fontes ou princípios norteadores da formação como os seguintes:

    1. a) As Sagradas Escrituras, em especial os Santos Evangelhos, lidas na fidelidade às orientações da Igreja e a partir da sabedoria dos pequenos (cf. Mt 5,1-12; Mt 11,25; Lc 10,21);
    2. b) Os Sinais dos Tempos, como referenciais privilegiados para sintonizar a formação e ação na busca de responder a vontade de Deus;
    3. c) Os Pobres, que a seu modo também nos evangelizam. Assim devemos nos matricular na escola deles e aprender suas lições.
    4. d) A Tradição e o Magistério da Igreja: os tesouros da Tradição viva, desde os escritos espirituais dos Santos Padres, os documentos da Igreja, das Conferências latino-americanas até as orientações da CNBB;
    5. e) Tradições e orientações da JMV: A vida, os escritos e as obras de São Vicente; a história da JMV; Os Estatutos e Regimentos, palavras dos Presidentes em nível Nacional e Internacional, documentos das últimas Assembleias Gerais, boletins e revistas.

    Urge que a vocação e o fazer missionário de cada um dos membros da JMV estejam permeados dos cinco aspectos fundamentais do itinerário formativo d@s discípul@s missionári@s de Cristo (Documento de Aparecida, n. 278):

    1. a) O Encontro com Cristo – Este encontro dá origem, fundamento e força para a vivência da vocação. Tal encontro se dá por meio da oração, pessoal e comunitária e articulada com o compromisso missionário com os pobres, bem como nas visitas domiciliares ou encontros com pessoas que nos ajudam a ajudar a quem mais necessita.
    2. b) A Conversão – A resposta ao autêntico encontro com Cristo leva a uma busca de uma contínua identificação com sua pessoa e seu Evangelho. Os jovens precisam formar-se e cuidar-se, para que possam efetivamente desenvolver uma vida responsável e de conversão contínua.
    3. c) O Discipulado – O encontro transformador com Cristo chama a pessoa ao discipulado, ao amadurecimento constante no conhecimento, amor e seguimento de Jesus. Tendo sempre Cristo como modelo missionário a seguir e com quem se identificar. Este processo de formação discipular permite a fidelidade dinâmica e criativa, onde o amor missionário fiel é o amor que cresce e produz muitos frutos que testemunham a presença do Reino.
    4. d) A Comunhão – O coração do seguimento de Cristo é a vida comunitária que é construída na missão e deve ser um sinal de vida nova inaugurada por Jesus. Na Associação, grupos e comunidades descobre-se a alteridade como uma mediação indispensável da formação para a missão. Esses espaços de comunhão transformam, ajudam, desafiam, interpelam e abrem possibilidades; nelas se aprendem o diálogo e o respeito ao outro, testa-se a capacidade de abertura e de aceitação do diferente.
    5. e) A Missão – A missão é simultaneamente uma consequência e um caminho de realização do encontro com Cristo, da conversão, do discipulado e da comunhão. A JMV, que nasceu de um pedido de Maria à noviça Catarina Labouré, traz em sua gênese uma missão de fazer a diferença na vida dos jovens, especialmente os mais pobres. Haja vista que a nota missionária se destaca no jeito de ser e viver como JMV.

    A caminhada é longa, mas Deus está conosco. Com disposição, alegria e entusiasmo levamos adiante nossa vocação Mariana e Vicentina, confiando sempre em Deus, na proteção de Maria e na caridade efetiva e afetiva de São Vicente de Paulo.


     

     

    Cleber Teodosio

    Seminarista da Congregação da Missão

    Voluntário de Língua Portuguesa do Secretariado Internacional da JMV (2009-2012)

  • ARTIGO | Evangelizados para evangelizar

    ARTIGO | Evangelizados para evangelizar

    “Não sou daqui nem dali, mas de qualquer lugar onde Deus quer que esteja” – São Vicente de Paulo. Tendo em mente esta frase do nosso patrono Vicente, fui para a I Missão Nacional da JMV Brasil, com muitas dúvidas e poucas certezas do que realmente iria acontecer. Demorei a escrever sobre, porque refleti muito sobre o que vivi e decidi compartilhar isso com vocês.

     

    Durante seis dias, eu e mais oito missionários estivemos na cidade de Jandaíra, mais precisamente na comunidade de Tubibal, tendo uma das maiores experiências de nossas vidas.

    Entrei na JMV no ano de 2013, e de todos os encontros que participei, posso dizer com toda a certeza, que nunca me senti tão bem acolhido, como me senti pelos jovens da JMV Tubibal e pela comunidade como um todo. Cada aperto de mão, abraço apertado, conversa olho no olho, gesto de carinho, me renovaram como Cristão e Jovem Mariano.

    Tubibal é uma comunidade pequena, de pessoas unidas, trabalhadoras e esforçadas, que sustentam a fraternidade e companheirismo entre os seus habitantes. E isso os tornam fortes. Um ajudando o outro a crescer, sem egoísmo, ganância ou qualquer coisa que prejudique os seus semelhantes.

    Durante esses dias pude conhecer pessoas humildes, que apesar das dificuldades, mantém o sorriso no rosto e a esperança no coração. Mesmo com o pouco que possuem, elas são simplesmente felizes!

    Nos tornamos uma grande família. A grande família Vicentina, que apesar dos seus inúmeros ramos, possuem muitas coisas em comum, entre elas: o Amor e o cuidado pelo ser humano!

    Fizemos visitas, conhecemos novas pessoas e histórias, aprendemos mais do que ensinamos e, sentimos Deus como nunca! Sim, é a verdade. Deus se manifesta principalmente nos humildes de coração e os sinais se tornam claros e evidentes.

    Quando vivemos em uma cidade grande, com uma vida corrida ou com mais afazeres do que deveríamos ter, a nossa visão se torna nublada e coisas banais acabam nos afastando do que realmente importa. O contato com Deus fica cada vez mais raro e nos perguntamos o porquê de não obtermos respostas. Mesmo tendo tanto, muitas vezes com mais do que precisamos, não somos felizes. Pelo contrário, vivemos em busca de algo que não temos a mínima ideia do que é. Isso é vida?

    Em uma das visitas, após muita conversa, eu comentei: “mesmo com tudo isso, dá pra levar a vida, né?”, o senhor me respondeu prontamente: “se não levarmos a vida, a morte nos leva”, e é isso. Cobiçamos o que não precisamos e entramos em um ciclo eterno que não nos leva a nada, e acabamos esquecendo de viver. Buscar apenas o que precisamos e valorizar o que já possuímos, esses foram alguns dos ensinamentos que aprendi nesta última semana.

    Me emocionei com a consagração dos 12 membros – assim como os apóstolos – da JMV Tubibal a Maria e à Associação. Me emocionei com depoimentos emocionados de superação. Me emocionei com o sinal de Deus, através do menino Gael, mostrando que ele está sempre ao nosso lado, independente da circunstância, ele nunca nos abandona. Me emocionei com tanta coisa, aprendi tanto, que a semana passou voando e o que resta agora é saudade.

    Agradeço a Deus por ter saúde para ter vivido esta semana abençoada. Agradeço aos meus amigos da JMV Tubibal, aos moradores da comunidade por sempre estarem de portas abertas para as nossas visitas, aos missionários de Natal, Pau dos Ferros, Recife e BH pelo companheirismo e amizade e agradeço, principalmente, pela chance que Deus nos dá diariamente de sermos melhores do que fomos ontem.

    Obrigado! Sou Grato por tudo e todos! Vocês fazem parte da minha vida! #JMVSempre

     

    Suerllen Marinho

    Província do Recife

    Conselheiro Nacional de Comunicação

  • ARTIGO | Que JMV eu estou construindo hoje?

    ARTIGO | Que JMV eu estou construindo hoje?

    “Jovens de todos os continentes, não tenhais medo de ser os santos do novo milênio!” – São João Paulo II

     

    A JMV é uma instituição feita de pessoas. E são as intenções e o trabalho dessas pessoas que dizem o que é a JMV hoje.

    Não adianta esperar do conselho Internacional, nacional, provincial, regional ou local algo novo ou algum avanço na mudança de estruturas. Isso parte de cada um que compõe esta Associação. É preciso viver uma JMV que transforme a vida do outro tomando a prática do evangelho em nossos grupos, assim, teremos uma nova JMV para o século de hoje, reinventada.

    Estaremos sempre atrasados e perdendo jovens para o mundo, se não nos inserirmos neste mundo com eles para apresentar o Cristo. E a prática do evangelho não é só ler o evangelho nos encontros, é pratica-lo na missão, fazendo o jovem compreender o que Jesus queria dizer sobre “amai-vos uns aos outros”, sobre como eu posso ser útil na vida dos Pobres e como eu posso transformar esse mundo. Sim, podemos mudar o mundo. Sabia disso?

    É preciso estarmos abertos para compreender a passagem biblica que impulsionou Vicente de Paulo “Porque tive fome, e destes-me de comer; tive sede, e destes-me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-me […]” (Mt 25, 35). Assumir o carisma vicentino e a espiritualidade mariana na prática, torna-se assumir um estilo de vida. Então, se nós que fazemos parte da JMV assumimos isso na nossa vida, na consagração, na admissão, porquê não temos a JMV como uma das prioridades na nossa vida?

    É preciso parar de viver no achismo, limitando-se apenas em dizer por exemplo, “a JMV está atrasada, poderia ser assim e não assada”. Ao invés de apenas dizer isso, porquê não fazemos algo para que isso mude? Precisamos refletir qual o papel de cada um de nós na JMV. Estamos aqui para quê? Qual nossa missão, afinal?

    Qual o propósito de Catarina Labouré ter começado esta missão? Não adianta saber a história da JMV se não estamos dispostos a continua-la e a traze-la para nossa vida. A pedido de Maria, Catarina fez grandes mudanças no seu tempo e transformou a vida de muitos. E nós, estamos dando continuidade a essa missão?

    É sensato refletir a caridade para o mundo de hoje, lembrando do pedido de Maria a Santa Catarina Labore. Seus filhos estavam sofrendo com os horrores daquele tempo e pediu a Catarina que se fizesse algo. E hoje? Se Maria nos pedisse que fizéssemos algo, o que faríamos? Qual seria a posição de Maria frente as injustiças que nos deparamos no dia-a-dia? Certamente não seria conivente com a pobreza, fome e violência contra esse povo.

    É preciso assumir este SER – AMAR- CONSTRUIR. “Ser” alguém que leva o Cristo às pessoas. “Amar” o outro sem distinção, como Jesus me ama todos os dias. “Construir” por meio da caridade rumos diferentes para uma sociedade mais justa e que favoreça os Pobres e marginalizados.

    Nós podemos limitar a vivência desse carisma na teoria, ele é pratica, é vivência, é mundo, é alimento para aprendermos com os Pobres o valor de tudo, inclusive, das pessoas.

    Sejamos JMV na mente, no coração e principalmente nas nossas ações. Precisamos SER, AMAR e CONSTRUIR.


     

    Catarina Érika

    Província de Fortaleza

    Vice-presidente Nacional