DEPOIMENTO | Simpósio da Família Vicentina pelos olhos de Catarina Érika

Entre os dias 11 a 15 de outubro, Catarina Érika, vice-presidente nacional e Irmã Rizomar Figueiredo, assessora nacional, estiveram em Roma – Itália, para participar do Simpósio da Família Vicentina, em celebração aos 400 anos do Carisma. Em depoimento exclusivo, Catarina nos contou em detalhes tudo o que aconteceu e também relatou o que sentiu por participar desse evento histórico para a FAMVIN.

 

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Já se passou uma semana que me despedi de Roma, mas até agora fico a pensar… É curiosa a maneira como Deus nos encoraja na caminhada e é mais curioso ainda como ele nos mostra a direção. Assim Ele fez comigo me levando ao Simpósio Internacional da Família Vicentina, entre os dias 11 a 15 de outubro, em Roma-Itália.

Nem me dei conta e lá estava eu, às 5h30 da manhã, no dia 10 de outubro com uma mochila nas costas e uma mala na mão dando passos compassados para longe da minha casa e minha família, em Cascavel-Ceará. O que viria depois? Não sei, eu só sabia que eu tinha que ir e que seria apenas uma estrangeira em busca de algo.

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Catarina, Padre Tomaz, Irmã Rizomar e André Peixoto

Na companhia da Assessora da Juventude Mariana Vicentina do Brasil, Ir. Rizomar, no dia seguinte eu chegava a Roma. Fiquei admirava com a beleza e os pequenos detalhes do dia comum daquela cidade. E neste primeiro dia na experiência de estrangeira, mal chegamos, desvendamos os caminhos que nos levariam a Cúria da Congregação da Missão.

O encontro ainda nem tinha iniciado, mas o sentimento de presença por inteiro nas celebrações dos 400 anos já estava ali quando visitamos a Cúria Geral da Congregação da Missão com outros irmãos do Secretariado Internacional da JMV. Padre Tomaž Mavrič, CM, Superior Geral da Congregação da Missão e Diretor Internacional da JMV, nos recebeu de braços abertos e fez questão de mostrar a casa, explicar como se organizam as atividades e até falar numa conversa informal dos planos futuros de um jardim que prometia florescer. Percebia em Pe. Thomaz um homem de oração, simplicidade e integridade, suas palavras eram de doçura e cordialidade.jmv4

Na noite de abertura do Simpósio, quinta-feira, a Associação da Medalha Milagrosa conduziu o primeiro momento com a oração, na Basílica de São João de Latrão. A programação estava prevista para iniciar às 18h, mas pouco a pouco, desde as 17h os vicentinos chegavam ao local e quando “dei por mim”, a Igreja estava repleta de lenços amarelo e crachás coloridos demarcando todos àqueles que estariam conosco nos próximos dias participando da programação do Simpósio. Eram 99 países reunidos.

Na sexta-feira, de 9h às 15h aconteceram as conferências temáticas por idiomas. Mesmo separados, as discussões tinham as mesmas temáticas. Participei das conferências em português e quem partilhou ideias foram: Eduardo Almeida, da Sociedade São Vicente de Paulo, falando sobre “Espiritualidade Vicentina e seu desafio profético”; Mizael Poggioli, CM, partilhando sobre “Formação Vicentina e a comunicação na era da informação”; e Alessandra Sousa Oliveira, FC, sobre “Os serviços vicentinos: a partir daqui… para onde?”. Os temas eram abordados rapidamente e discutidos em grupos.

Falou-se da necessidade de oração na caminhada de vicentinos para continuarmos firmes nas ações concretas de caridade, da importância da nossa formação para ir ao mundo e ser mundo junto dos Pobres. Uma das coisas que considerei interessante também é que a Família Vicentina não pode se limitar em ser um movimento religioso da Igreja que apenas reza e realiza encontro de grupos e conferências, ela é um movimento social e deve ser atuante na sociedade, se preocupando com o social, afinal de contas, os Pobres são foco para a existência desses grupos. A meu ver, as discussões não são novas, mas foi importante ouvir de cada realidade suas necessidades e sugestões de como podemos seguir enquanto Família Vicentina, apostando no futuro.

Mais tarde, o Simpósio reunia mais de mil jovens vicentinos num show cultural representando várias nacionalidades, como Itália, Portugal, França, Polônia, República Dominicana, Espanha, etc. Os jovens se divertiam, pulavam, dançavam, levantavam suas bandeiras carregando no peito a pátria que lhes traziam a Roma. Foi emocionante ver tantos jovens reunidos e para minha alegria, a maioria era da Juventude Mariana Vicentina. É sempre tão bom ver nossa família reunida.

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JMV Brasil em companhia da JMV Síria e JMV Argentina

Ao final da noite, os jovens foram surpreendidos pelo Pe. Thomaz que conduziu o momento de oração final, e como uma grande reflexão, ele lançou a pergunta aos jovens: “estamos dispostos a sujar as mãos pelos pobres?”. A pergunta era intrigante e trazia com ela muitas questões, então ele pediu que quem estivesse disposto a isso, que levantassem suas mãos. Os jovens levantaram timidamente suas mãos e um a um, vários braços erguidos todos responderam o desafio. O padre pediu que os quatro primeiros que levantaram as mãos se dirigissem ao palco, então eles foram, sujaram suas mãos de tinta, e num gesto simbólico de compromisso, representando todos aqueles jovens, deixaram suas marcas num cartaz dos 400 anos de carisma, que seria entregue ao Papa Francisco. Foi um momento maravilhoso e mais uma vez pude perceber na pessoa de Pe. Thomaz, a mesma serenidade.

No sábado, o tempo parecia mais frio que os demais dias em que estive naquela cidade. Era dia de acordar mais cedo, encarar a fila quilométrica e adentrar os portões da Praça de São Pedro, para o tão esperado encontro com o Papa. Não tinha preguiça, sono ou frio que desanimasse o povo. As filas eram apenas motivos para aquecer a animação que receberia o santo padre. Vozes entoando cânticos de louvor, bandeiras balançando, palmas e gritos ritmados parafraseando quem estavam ali.

Os vicentinos tomavam a Praça de São Pedro e pouco a pouco um mar amarelo se formou com mais de 11 mil pessoas à espera do Papa. Quando olhei para trás a observar aquela multidão, fiquei admirada e pensei: seria maravilhoso se cada um que está nessa praça hoje saísse tocado e disposto a praticar gestos concretos de caridade para a transformação de um mundo melhor. Esse pensamento se tornou um grande desejo que guardei nas minhas orações naquele momento quando a relíquia do coração de São Vicente de Paulo passava pelo corredor central.

Antecipando a hora marcada, Papa Francisco surpreendeu, chegando acenando para a multidão, percorrendo a praça no papa móvel. E por onde passava, o clima era de festa e emoção. Nas suas palavras, Francisco foi enfático e direto. Ele falou sobre os três verbos importantes na caminhada do vicentino: adorar, acolher e ir. Explicou que a oração é a bússola de todos os dias e que somente rezando, podemos tocar os corações das pessoas ao anunciar o Evangelho. Quando se acolhe, a pessoa está disposta a renunciar seu eu e faz entrar em sua vida o outro. Disse ainda que quem ama não fica numa poltrona esperando um mundo melhor, mas com entusiasmo e simplicidade se levanta e vai ao encontro do irmão.

Se o momento da tarde já fazia doer o coração de emoção, imagina no turno da noite quando aconteceria a vigília com a relíquia do coração de São Vicente de Paulo, organizada pela Juventude Mariana Vicentina Internacional. A vigília foi um momento de graça e muita oração, venerando o coração daquele que soube dar seu coração, em troca dos outros. Vicente me fez pensar na minha pequenez e no quanto ainda precisamos aprender com ele a prática da caridade. Incansavelmente eu pedia a Vicente que nos desse um coração igual ao seu, disposto a enxergar o Pobre com o coração.

Na missa de encerramento, já sentia o gostinho da saudade que pairava no ar. Não foi simplesmente uma celebração de despedida, foi um envio ao chamado de Cristo. Era lindo de se ver que apesar dos idiomas diferentes, todos falavam a mesma língua. No Pai Nosso pôde-se notar isso nitidamente. Fechei os meus olhos e ouvi a mistura de idiomas unidos numa só voz rezando, como filhos que pedem atenção ao pai. Ouvi o clamor dos ramos que passam por dificuldades, os desafios financeiros para custear os projetos sociais, os maus relacionamentos dentro dos grupos, congregação, companhia e conferências e até mesmo a falta de amor e caridade. E para tudo isso só poderia dizer: seja feita a tua vontade, Senhor, e não a nossa!

Padre Thomaz nos fez refletir em sua homilia o quanto nosso carisma é importante para a sociedade e que o caminho para a santidade é a caridade. E faz todo sentido porque foi assim que os santos e beatos da nossa Igreja foram santos: olhando o outro com o olhar de Cristo e isso é caridade.

Ah! E no final de tudo pude compreender o porquê de tanta gente me pedir orações quando soube da minha viagem a Roma. Porque Roma me fez sonhar alto e grande nos meus projetos enquanto vicentina; porque estar pertinho do Papa geraria boas energias e Deus estava ali; porque foi naquela cidade santa que Deus me deu impulso, coragem e direção; e porque eu podia sentir que todos aqueles que disseram estariam comigo em orações, estavam de fato.

Sou grata a Deus e a todos que me apoiaram e rezaram por esta viagem. Sou grata principalmente a Ir. Rizomar, assessora nacional da Juventude Mariana Vicentina, que possibilitou que esta viagem acontecesse tornando acessível para mim financeiramente. Oportunidades como esta, só Deus nos mostra. Por isso e por tudo que tenho e sou devo ser grata.

E mesmo sabendo que essa leitura foi um pouco cansativa, peço-lhe ainda que reze pelos Pobres e a Família Vicentina, para que realizem o que está no coração de Deus. Sejamos Vicente!

Catarina Érika

Vice-presidente da JMV Brasil

Catarina Érika é vice-presidente da JMV Brasil e presidente da província de Fortaleza

 

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